Um trabalho como este que se lerá a seguir depende de muitas mãos, pés, bocas, olhos e ouvidos. São os argumentos que se repetem de muitos lados, em busca de uma nova escuta, ou uma fotografia que surge em meio a uma conversa, se prestando à observação, ou um objeto um livro, um aguayo, um gorro, uma recordação de um interlocutorque é alçado como parte do relato da pesquisa. Mas todas essas funções não se prendem ao momento do trabalho de campo, afinal, muitas dessas mãos já haviam tocado objetos semelhantes antes, assim como muitos daqueles pés já tinham caminhado por percursos iguais, e muitos daqueles olhos viram imagens da presença boliviana em São Paulo, ouviram suas músicas, escutaram suas histórias ainda pouco conhecidas e, por que não, falaram sobre elas. Essa pesquisa, repleta de mãos, pés, bocas, olhos e ouvidos, sequer começou naquele janeiro de 2019, e tampouco se encerra agora: ela permanece circulando, da mesma forma que as fraternidades folclóricas bolivianas, no tempo e no espaço.Para que este trabalho acontecesse, tive o privilégio de ter muitíssimas dessas disposições. A começar pelos meus pais, Silas e Kátia, e pelo meu único irmão, Gabriel: foram eles, que lutando para que eu pudesse fazer um curso universitário quando ele parecia inalcançável, dada a nossa condição econômica, há mais de dez anos, deram início a toda essa história. No curso de Jornalismo, na UNIP, vieram os primeiros livros, os interesses inéditos, um amor intenso pela América Latina e a sua consequência possívelum trabalho final sobre a presença boliviana em São Paulo. Dali em diante, o tema nunca mais descansaria em mim, como o prova esta dissertação.Depois, contei com a existência constante da minha esposa, Ana Carolina, cujo primeiro encontro, em 2015, foi marcado por seu choro justamente ao me ouvir contar sobre os bolivianos que viviam na cidade. Nestes últimos seis anos, essa conversa nunca se encerrou.Ana emprestou seus pés para ir ao campo de pesquisa comigo, seus olhos para ver as imagens que eram produzidas, os ouvidos para escutar as descobertas, as conexões com a teoria, as falas emotivas dos interlocutores, enquanto de suas mãos saíam incentivos, badulaques, presentes latino-americanos, e sua boca não deixava de expressar ânimo quando só havia cansaço ou estímulo quando a pesquisa parecia exaurida. Ela continuará emprestando sua existência, inevitavelmente, nas pesquisas futuras, assim como na expectativa de conhecer La Paz, que ainda não realizeimas ela sim. Agora, esperamos ansiosos por outra presença: a da nossa filha, Flora, que nascerá em novembro.Há também toda a presença da minha orientadora, profa. dra. Bianca Freire-Medeiros, que desde o contato inicial, ainda na fase de elaboração do projeto, se dispôs a entregar seu tempo, seu conhecimento, suas reflexões e principalmente todo seu ânimo para que esta pesquisa acontecesse. Nela, acabei encontrando muito mais do que uma orientação acadêmica ou uma leitura profunda dos meus textos, principalmente uma grandíssima amiga. Sua postura intelectual, sua relação...