E ntre maio de 2001 e janeiro de 2004, fiz trabalho de campo em Moçambique para minha tese de doutorado, que tratou das dinâmi-cas do capitalismo nesse país (Ribeiro, 2004). Estudei um modo concreto de integração de um país da África Austral no sistema global capitalista, tomando como objeto central a indústria do caju. Esse trabalho de compreensão das dinâmicas do capitalismo, algumas de amplitude secular e que se fazem sentir localmente, teve como lugar principal, mas não exclusivo, Manjacaze (província de Gaza) e suas duas fábricas de caju. Criadas em épocas históricas diferentes, não só refletem os modos de vida em Moçambique, desde meados da segunda metade do século XX, como também são alavancas para mudanças.Os processos e os fenômenos sociais que envolvem os países periféri-cos -naquilo que muitos designam como desenvolvimento -são um terreno de investigação partilhado pela antropologia e pela sociologia. No entender de Olivier de Sardan (1995:5 e ss., tradução do autor), trata-se de um domínio em que essas disciplinas não podem ser colocadas em oposição nem distinguidas. Por isso, o autor opta pelo conceito amplo de "socioantropologia da mudança social e do desenvolvimento", procurando assim definir uma nova disciplina. Não podendo existir separada da sociologia e da antropologia em geral, está marcada pela