Resumo Caminhar é uma das práticas corporais mais elementares, mas que pode assumir diferentes significados a depender do contexto social e histórico. No âmbito da sociologia do corpo, David Le Breton é detentor de uma posição de prestígio intelectual e científico, porém, suas obras e reflexões sobre a caminhada são ainda pouco conhecidas no Brasil. O objetivo deste artigo é analisar como a caminhada pode ser considerada uma prática de resistência, a partir da visão sociológica de Le Breton. Com base em fontes documentais e entrevistas com o autor, foram desenvolvidos dois eixos de análise: o primeiro explora a caminhada como forma de resistência a determinados aspectos da sociedade contemporânea, que privilegiam a velocidade, o efêmero e o caráter utilitário das relações e emoções; no segundo, a caminhada emerge como uma forma satisfatória de desaparecer de si, diante da resistência à imperiosa necessidade de lidar com diferentes identidades imposta pela sociedade. Estudar a caminhada nessa perspectiva pode colaborar para o repensar das lógicas presentes em torno das práticas corporais e – por que não? – presentes em nosso enraizamento social. Refletir sobre aspectos sociológicos fundamentais ligados a ser corpo é mais que pertinente quando valores associados ao ritmo vertiginoso de nossa existência estão sendo colocados em xeque.