Este artigo aborda o êxito da pedagogia colaborativa do tambor de crioula no componente curricular Prática de Conjunto III (2015.2) no curso de Licenciatura em Música da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). A referida prática teve como inovação a flexibilização de hierarquias na relação professor/aluno, tanto no que diz respeito a quem detém o conhecimento musical como em relação à metodologia empregada para transmiti-lo. Isto só foi possível através da criação de um ambiente de cooperação onde alunos cotistas, herdeiros das tradições musicais afro-maranhenses, puderam compartilhar seus conhecimentos e visões de mundo com o restante da turma, assumindo de forma inédita o protagonismo no processo educativo. Práticas pedagógico-musicais multiculturais, como esta, estão fundadas na ideia de que o ensino de música deve assumir seu papel político na construção da justiça social, cidadania, democracia e redução das desigualdades étnico-raciais, já a partir da formação de professores de música. Tais ideias vêm ganhado força nas áreas de educação musical e etnomusicologia (LUCAS et al., 2016. QUEIROZ, 2017. CAMPBELL, 2018), porém sua concretização encontra resistência nas rígidas estruturas institucionais e disposições conservadoras arraigadas nos cursos superiores de música no Brasil. Conclui-se que apenas a partir da transformação das instituições formadoras de professores de música se pode, com a atuação dos futuros educadores musicais, contribuir para dirimir preconceitos e promover a inclusão de epistemologias historicamente desprezadas.