Enrique Dussel: contribuições para a crítica ética e radical nos Estudos Organizacionais

Abstract

Nesse ensaio, vinculamo-nos ao esforço que alguns autores vêm realizando de elaborar uma crítica ética e radical nos Estudos Organizacionais (EO) para libertar pelo menos algumas de suas partes da colonização pelo management. Nesse sentido, tomamos como referência as proposições criticamente situadas na América Latina da Filosofia da Libertação (FL) elaboradas por Enrique Dussel. Na primeira parte, apresentamos uma visão abrangente desta vasta obra que se justifica pela apropriação parcial e mesmo incoerente que vem sendo realizada nos EO. Na segunda parte, discutimos algumas apropriações que vêm sendo feitas por autores vinculados aos EO no contexto latino-americano, com destaque para o brasileiro. Esse diálogo crítico é indispensável para que se libere o caminho para que a FL de Dussel contribua para o exercício de uma crítica que negue, lado a lado com as vítimas, a legitimidade de um sistema que explora e oprime e que, simultaneamente, se comprometa com a afirmação da vida humana em comunidade e, portanto, com a práxis da libertação.

Organizações Outras: Diálogos Entre a Teoria da Prática e a Abordagem Decolonial de Dussel

“…A expansão dialéticodominadora do Mesmo, que assassina o Outro e o totaliza no Mesmo. Tal noção aponta a diferença como representação do não-ser, do caos e do mal (Couto & Carrieri, 2018;Misoczky & Camara, 2015).…”

“…Ainda conforme Dussel (2005), um movimento analético é necessário para o desenvolvimento de uma epistemologia decolonial: não basta apenas registrar e analisar a experiência do Outro, mas é importante também estar junto ao Outro, compreendendo as suas peculiaridades e denunciando as formas de constrição que o diferente sofre ao ser contraposto à totalidade (Couto & Carrieri, 2018;Dussel, 1977;Misoczky & Camara, 2015).…”

O campo científico da administração: uma análise a partir do círculo das matrizes teóricas

“…One of a reformist, committed to theoretical plurality, recognizing the limitations of the orthodox school, led by the European and American academy, but firm in defending the fundamental principles of mainstream, such as efficiency, effectiveness and profitability (critical performance) and Micro-emancipation of management. Another of a revolutionary character, committed to a critical thinking that is closer to the Frankfurtian tradition, an opponent of the Orthodox school, a champion of other theoretical and practical realities of management (TRAGTENBERG, 1974;RAMANOS, 1989, MIZOCZY andCAMARA, 2015;SEIFERT and VIZEU, 2015a;2015b), in addition to the dominant Euro-American models.…”

Enrique Dussel e a Filosofia da Libertação nos Estudos Organizacionais

“…The positive basis of his philosophy is to break with the silence of the oppressed, the exploited, or the victims who have been disregarded as relevant agents in the construction of modern society (women, indigenous peoples, slaves, backlanders, etc.). To break with this silence means to situate oneself at the level of materiality of practices, within the content of the actions that constitute objective reality -or in other words, to understand the mechanism that exclude subjects, as well as render their voices silent (DUSSEL, MENDIETA and DE FRUTOS, 2001;MISOCZKY and CAMARA, 2015). For Dussel, this positive and material theoretical approach implies to stand by the victims efficiently, not only to take the position of an observer-participant; it demands that researchers experience the reality of the victims to understand, in their program, the actual causes of negativity.…”

“…For the author, only a philosophy of liberation (as opposed to that of oppression) can alert subjects about their condition, so as to reach emancipation (DUSSEL, 1977 of Argentine origin, has been strongly influenced by his Latin American experiences and his active militancy with popular movements 1 -which in turn have derived from his personal anguish to find out who the Latin Americans genuinely are, culturally speaking. Therefore, he set out to pursue a historical identity of Latin America (DUSSEL, 2012;MISOCZKY and CAMARA, 2015).…”