RESUMO -O objetivo deste artigo é analisar as concepções sobre o inconsciente ligadas ao cotidiano da prática terapêutica de rede, como contribuição à clínica em saúde mental. A pesquisa participante foi realizada em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) na cidade de São Paulo. Os resultados mostraram as concepções mais frequentes: o inconsciente como inconsciência, o inconsciente como desconhecimento e o inconsciente como método de escuta do sujeito e das relações na instituição. Demonstram uma flexibilidade teórica que pode permitir articulações complexas nas diversas intervenções no cotidiano da equipe referentes às subjetividades e saberes sobre o inconsciente, psicanalíticos ou não. Conclui-se que a elucidação desse saber prático sobre o inconsciente contribui para o aprofundamento dessa temática no campo da reforma psiquiátrica.Palavras-chave: inconsciente; cotidiano; atenção psicossocial; saúde mental.
Unconscious and Everyday Life in the Practice of Psychosocial Attention in Mental HealthABSTRACT -The goal of this article is to analyze the conceptions about the unconscious connected with the everyday life of the therapeutic practice network, as a contribution to the mental health clinical approach. The participant research took place in a Psychosocial Care Center at São Paulo countryside. The results showed the most frequent conceptions: unconscious as unconsciousness, unconscious as ignorance, and unconscious as a method to listen to the subject and to the relationships in the institution. Those results demonstrate a theoretical flexibility that allows complex articulations in diverse interventions in the everyday life of the team referring to subjectivities and knowledge about unconscious, related or not to psychoanalysis. It is concluded that practical knowledge elucidation about unconscious contributes to this subject deepening in the psychiatric reform. O inconsciente descrito por Freud (1900/1976) em A interpretação dos sonhos foi um marco que abriu várias polêmicas teóricas. A principal foi o deslocamento da posição cartesiana, centralizada na razão/lógica como a mais alta esfera do funcionamento humano em contraposição aos instintos, para ressaltar a importância da sexualidade no dimensionamento da existência, do sentido da vida. A relação enigmática entre o respeitável Dr. Jekyll e seu diabólico "alter-ego" Edward Hyde, na obra clássica de Stevenson (2003), é emblemática de uma divisão entre o sujeito da ló-gica alinhavada com a moral e o bem ou o sujeito dominado pelos excessos. Diferente dessa concepção, a sexualidade, no sentido freudiano, concebe o infantil, presente no adulto, pulsando na direção do desejo. Desejo que se manifesta como força direcionadora do inconsciente, gerando atos que podem ser posteriormente explicados ou justificados pela razão.
KeywordsNessa perspectiva, estabelece-se a diferença entre o conhecimento do Eu e o saber do inconsciente, assim como a via de acesso ao inconsciente pela transferência. O saber, a criação de novos saberes, só é instaurado por meio da relaç...