“Eu acho que a química entrou em reprovação”: Relações afetivo-sexuais de homens jovens vivendo com HIV/aids e com carga viral indetectável

Abstract

Resumo Neste artigo, discutimos narrativas sobre as relações afetivo-sexuais de homens jovens vivendo com HIV/aids, com carga viral indetectável e possibilidade de não transmis-sibilidade do HIV. Realizamos dez entrevistas semiestruturadas com homens que fazem sexo com homens, entre 18 e 30 anos, acompanhados em um SAE - Serviço de Assistência Es-pecializada de Salvador-BA, em 2017. Nas narrativas em foco, a condição de indetectável aparece como uma mudança [bio]identitária importante, e sua manutenção como uma res-ponsabilidade contínua consigo e com o outro. Apesar de avanços biomédicos e das novas possibilidades interativas abertas nesse cenário, os efeitos estigmatizantes do HIV persistem, sustentados pelos discursos de medo e culpa por uma possível transmissão do vírus. Uma noção de corpos perigosos, de risco, em detrimento dos avanços alcançados com os estudos que indicam que indetectável=intransmissível.

Sexualidade e vivência com o HIV/Aids: uma revisão integrativa

“…A vivência com HIV/aids apresenta diversos desafios ao sujeito soropositivo, incluindo fatores que influenciam diretamente na sexualidade, como demonstra a literatura. Diversos sentimentos em relação a infecção tomam conta dos sujeitos de ambos os sexos, orientação sexual diversa e faixas etárias distintas, trazendo complexidade nas adaptações com a doença (Lourenço, et al, 2018), (Nascimento, et al, 2017), (Rios, 2021), (Sá & Santos, 2018), (Sehnem, et al, 2018), (Silva, et al, 2020), (Suto, et al, 2021), (Zanelatto, et al, 2018).…”

“…O avanço da medicação e tratamento do HIV, transformando a Aids em uma doença crônica, não foi suficiente para extinguir o caráter do estigma, em relação à sexualidade promíscua e corpos perigosos (tidos como irresponsáveis e descontrolados), sendo a revelação do estado sorológico caracterizado ainda como um processo difícil, repleto de dilemas e sentimentos como medo do estigma, isolamento e rejeição (Silva, et al, 2020).…”

“…Desta forma, o estigma ainda produz barreiras nas relações afetivo-sexuais dos sujeitos. Este estigma é mais marcado em relação a homens gays/homossexuais que carregam a imagem de serem perigosos ou de risco, associados à promiscuidade e aos transmissores do vírus (Silva, et al, 2020).…”

“…Isto marca a presença do discurso moral e separação moral dos corpos infectados e não infectados. Outro fator de influência nos estigmas é o aumento do conservadorismo que faz com que grupos de riscos estejam mais vulneráveis (Silva, et al, 2020).…”

Moral barriers to HIV prevention and care for gay and bisexual men: Challenges in times of conservatism in Brazil

“…Therefore, it is seen as necessary to control them through education about their sexuality (Cunha, 2014), suggesting denial of exacerbated and uncontrolled sexuality and a responsibility not only to oneself (to prevent and treat) but, particularly, to others-in other words, to live with HIV without disseminating the virus. These images of "dangerous bodies" and "risky subjects" seem to persist, despite biotechnologies advances (Silva, Duarte & Lima, 2020).…”