Nas últimas décadas, a investigação na área da reminiscência adulto-criança tem-se debruçado, essencialmente, sobre a forma como as mães conversam sobre eventos passados com os seus filhos. Contudo, mais recentemente, os investigadores têm procurado compreender a importância do pai no desenvolvimento da comunicação infantil. O presente estudo explora as diferenças do estilo de reminiscência nas díades mãe-criança e pai-criança, em função do sexo desta. Participaram 79 crianças portuguesas (40 raparigas e 39 rapazes), com uma média de 56.93 meses de idade, e respectivas figuras parentais (mãe, n=75 e pai, n=57), 53 destas tinham dados com as díades mãe e pai. As díades participaram separadamente, numa tarefa de reminiscência sobre três eventos passados partilhados. Investigadores independentes transcreveram as conversas e cotaram o estilo de reminiscência dos pais, das mães e da criança. Os resultados evidenciam que tanto os pais, como as mães não diferem grandemente na forma como falam do passado com as crianças, no entanto as mães utilizam um discurso mais repetitivo do que os pais. As crianças apresentam uma tendência para falar mais com os pais, do que com as mães, independentemente do sexo. Estes dados reforçam a importância do papel do pai como agente de socialização, desde os primeiros anos, promotor da comunicação da criança com o mundo exterior.
Palavras
IntroduçãoA capacidade de recordar é um processo complexo que envolve várias competências, mediadas cultural e socialmente. Partindo da teoria sociocultural de Vygotsky (1978), o desenvolvimento das competências de memória da criança inicia-se nas interações entre esta e os pais, tendo a linguagem um papel privilegiado neste processo. Nas interações com os cuidadores, a criança começa a desenvolver a sua capacidade de recordar e partilhar as suas experiências passadas. A partilha destas experiências, num contexto cultural e social, e a compreensão do que os outros sentem e pensam acerca das mesmas, permitem à criança desenvolver narrativas coerentes, que promovem a construção da noção de si própria ao longo do tempo (Fivush, 2011;Fivush, Haden, & Reese, 2006;Fivush & Nelson, 2006).Ao participar nas interações guiadas pelos adultos, a criança aprende as funções da memória e a narrar as suas experiências passadas. Vários estudos têm demonstrado que a forma como os pais estruturam conversas acerca do passado com a criança, em idade pré-escolar, tem um profundo