A maioria das crianças na sociedade urbana actual toma contacto com uma rede alargada de relacionamentos, fora da família nuclear e da supervisão dos pais, durante o chamado período pré-escolar, ou seja sensivelmente entre os 2-3 e os 5-6 anos de idade. As crianças inseridas em contextos educativos e de cuidados pré-escolares estabelecem relacionamentos cada vez mais numerosos e qualitativamente diferenciados, configurando uma rede social afiliativa complexa (Hay, Payne, & Chadwick, 2004;Howes et al., 1998;Strayer & Santos, 1996). Esta rede afiliativa normalmente inclui o contacto frequente com crianças desconhecidas, interacções mais ou menos esporádicas com crianças familiares, mas também relacionamentos preferenciais e estáveis que podem configurar as chamadas amizades (Howes, 1983).De facto, parece existir um aumento linear no tamanho dos grupos afiliativos da criança à medida que a idade avança e o desenvolvimento ocorre. Se já é possível observar relações diádicas coesas em crianças com cerca de dois anos de idade, cerca dos três anos os laços diádicos parecem ser aspectos nascentes de organização grupal mais vasta e mais complexa (Strayer & Santos, 1996;Hay et al., 2004). O contacto com uma nova rede social de adultos e outras crianças é uma oportunidade para o desenvolvimento socio-emocional ao mesmo tempo que representa um desafio às capacidades de adaptação da criança num ambiente social complexo (Hay et al., 2004;Waters & Sroufe, 1983).O estabelecimento, manutenção e estabilidade de relações positivas de amizade parece conduzir ao desenvolvimento de repertórios de competências sociais mutuamente aprendidas, que se tornam cada vez mais sofisticados (Howes, 1983) e estes são considerados factores importantes para uma melhor adaptação ao jardim-escola (Ladd & Price, 1987;Rubin & Coplan, 1998), bem como para o ajustamento psicológico, bem-estar e relação social ao longo da vida (e.g. Szewczyk-Sokolwski et al., 2005).Trabalhos empíricos têm mostrado a influência decisiva da interacção com os pares e da amizade na socialização dos impulsos agressivos, na cognição e cognição social, nas competências linguísticas,
435Análise Psicológica (2008), 3 (XXVI): 435-445