Enunciação do problemao corpo e a doença constituem objetos cujo conhecimento não encontra um modo de acesso único. Fenômenos sociais e culturais -como qualquer fenômeno humano -, o corpo e a doença, assim como a dor e o sofrimento, constituem objetos de pesquisa que atravessam fronteiras disciplinares por envolverem dimensões da existência humana reivindicadas, cada uma delas, como pró-prias de áreas específicas do saber, correspondendo à fragmentação disciplinar que marca o campo científico, neste caso, entre as ciências humanas e as biológicas. Em seu estudo, aparece inevitavelmente o problema de como se relacionam esses distintos campos do conhecimento, cujos olhares transformam o corpo e a doença em objetos radicalmente diferentes, porque construídos a partir de referências epistemológicas distintas, como as que distinguem o campo da biologia -fundado na suposição da objetividade do conhecimento empírico -e o campo simbólico da antropologia. o problema evidencia-se, sobretudo, diante do fato de que esses estudos, mesmo na perspectiva das ciências sociais, se desenvolvem frequentemente em espaços institucionais vinculados à área da saúde, cuja organização segue a lógica dos saberes biológicos.num momento de fragilidade da institucionalização das ciências sociais na área da saúde, Carrara ressaltou que a discussão que propunha, à época, sobre a entrada da antropologia social nos domí-nios da biomedicina, transformando-a em "'objeto' de nossa própria 'ciência'" (1994, p. 37), talvez interessasse apenas àqueles, como o autor, localiza-* Agradeço a leitura atenta e os comentários de Patricia Birman e olgaria Matos à primeira versão do texto.
Artigo recebido em janeiro/2010Aprovado em agosto/2010