Neste trabalho, partindo de Marcuschi (2015) e Castilho (1997), estudamos o papel discursivo e gramatical da repetição na língua falada. Nossa hipótese é que a língua é um sistema complexo, integrado pelo Léxico, Discurso, Gramática e Semântica, nos termos da Abordagem multissistêmica da língua (CASTILHO, 2010). Nosso objetivo é demonstrar que a repetição, entendida como a reiteração de um segmento idêntico ou semelhante, é um processo constitutivo das línguas naturais, dispondo de propriedades discursivas e gramaticais, para além das propriedades semânticas e lexicais, que não serão examinadas aqui. Nossos dados foram colhidos em entrevistas do tipo diálogo entre dois informantes do Projeto NURC/Ba. Como resultados, tem-se a formulação, fundamentada em Marcuschi (2015), de quadros de manifestações e funções das repetições (norteadores de nossa busca por ocorrências do fenômeno no corpus delimitado). Além disso, investigamos processos de gramaticalização envolvendo os advérbios “sim” e “não”, cujas análises apontam para a condição do “sim” ser apagado em respostas de cunho afirmativo, enquanto o verbo é repetido. No caso do “não”, a realidade se inverte. Este é mantido em respostas negativas, sendo, costumeiramente, o verbo apagado. Também destacamos que a repetição do “não” em respostas negativas pode ocasionar efeito de ênfase.