As hortas urbanas integram a categoria de Soluções Baseadas na Natureza (SbN) capazes de proporcionar benefícios tanto ambientais quanto sociais; entre estas, podemos citar a regulação de microclimas urbanos, o suporte à diversidade e segurança alimentar, o incentivo à educação ambiental e a resiliência de comunidades. O artigo tem como objetivo investigar se projetos dessa natureza, quando criados e geridos sob a iniciativa de comunidades, organizações de bairro e outros grupos sociais possuem maior eficiência, engajamento e continuidade em comparação a projetos de iniciativa privada e/ou pública, sem participação social em sua criação e desenvolvimento. Por meio de estudos de casos múltiplo, ao lado de entrevistas semi-estruturadas com lideranças, visitas de campo e pesquisa bibliográfica, foram selecionadas três hortas urbanas em contextos periféricos na cidade de São Paulo: a Horta da Dona Sebastiana, membro da Associação de Agricultores da Zona Leste e auxiliada por uma Organização Não Governamental; a AgroFavela-Refazenda, localizada em Paraisópolis, patrocinada por uma empresa multinacional; e a Horta Popular Criando Esperança, na Vila Nova Esperança, autônoma.
O trabalho também discute o conceito de Justiça Ambiental como um interessante instrumento de análise, em uma cidade socialmente e ambientalmente desigual como São Paulo - na qual os riscos ambientais e a falta de investimento atingem desproporcionalmente populações mais pobres e vulneráveis. Como resultado, concluiu-se que projetos como as hortas urbanas podem ser ferramentas potenciais de redução de desigualdades ambientais e, quando com a participação de comunidades, também transformadores sociais. Ressalta-se a importância da implementação de SbNs em áreas periféricas, as quais sofrem mais injustiças ambientais e necessitam mais destas infraestruturas do que nas áreas nobres de São Paulo - onde muitas SBNs são atualmente construídas e amplamente divulgadas.