Psicoterapia Analítica Funcional Feminista: Possibilidades de Um Encontro

Abstract

/psicologia.v16n3p18-29. Sistema de avaliação: às cegas por pares (double blind review).

Multiculturalidade e interseccionalidade nas terapias comportamentais contextuais

“…Cada aspecto do comportamento humano é uma interação ativa, contínua e mútua com o mundo (Skinner, 1957), sendo o terapeuta um agente que deve atuar de forma dinâmica e real para prover um contexto ao mesmo tempo seguro e contundente de mudança para o cliente (Holman et al, 2017). Outra característica da FAP que favorece sua sensibilidade cultural é a sua abordagem idiográfica (i.e., individualizada) e contextual dos fenômenos clínicos através da análise funcional (Fideles & Vandenberghe, 2014), o que permite o reconhecimento das diversas influências e identidades culturais que impactam os CCRs.…”

“…Ou seja, permite compreender o ponto de partida (i.e., a perspectiva) dessa fala através do entendimento das condições sociais e da influência das comunidades verbais e agências de controle para com esses indivíduos, especialmente no tocante ao acesso (ou não acesso) a lugares de cidadania. Entender lugar de fala, assim como aspectos sócio-históricos da própria ciência, é essencial para a compreensão de que grande parte do nosso aprendizado acadêmico advém justamente desses espaços e dessas experiências individuais, não sendo necessariamente a representação da realidade da maioria da população em um determinado território e período (Fideles & Vandenberghe, 2014;Hendriks et al, 2019;Ribeiro, 2017). A compreensão do lugar de fala do cliente possibilita ao terapeuta tecer hipóteses sobre possíveis opressões históricas vividas pelo cliente e suas relações com a atual demanda clínica.…”

“…É importante entender que ao olhar para a história de uma mulher negra, por exemplo, além da compreensão de valores, crenças e comportamentos provavelmente comuns à pessoas negras e mulheres, também cabe observar questões como as relacionadas à idade, a problemas de desenvolvimento, a outras deficiências adquiridas durante a vida, se essa mulher é cisgênero ou transgênero, qual sua orientação sexual, bem como todos os outros itens indicados na estrutura ADDRESSING, pois as mesmas são fundamentais para uma compreensão integral do indivíduo. Essa visão interseccional deve ser conduzida de forma idiográfica a partir da perspectiva de cada cliente, característica compartilhada entre FAP, terapias feministas e ADDRESSING (Fideles & Vandenberghe, 2014;Terry et al, 2010) A observação dos atravessamentos das identidades de cliente e terapeuta é central no trabalho terapêutico, no entanto habilidades para iniciar conversas sobre essas identidades e sua interação na relação terapêutica pode produzir importantes efeitos na relação terapêutica (S. Sue et al, 2009;Tagg, 2020). Lee et al (2013) sugerem que terapeutas, mesmo com formação direcionada para esse olhar multicultural, podem acabar não focando em aspectos culturais quando estes não são declarados como problema para os clientes.…”

Feminismo e análise do comportamento: caminhos para o diálogo

“…Por sua relevância, foi incluído um artigo (Fideles & Vandenberghe, 2014), de conhecimento da primeira autora do presente trabalho, que, embora discuta feminismo e análise do comportamento, não foi publicado em um dos periódicos listados acima. A pesquisa se restringiu apenas a artigos em periódicos científicos, excluindo capítulos de livros, livros e materiais de outras fontes.…”

B. F. Skinner e Simone de Beauvoir: “a mulher” à luz do modelo de seleção pelas consequências

“…Nas últimas três décadas, o termo feminismo reportou--se à tentativa de alterar o papel social da mulher (Fideles & Vandenberghe, 2014), com base em um programa de ação que explicita práticas culturais responsáveis por um desequilíbrio na distribuição de reforçadores sociais, favorecendo os homens em detrimento das mulheres. Essa tentativa faz do feminismo uma ideologia política definida por duas asserções fundamentais: "a de que as mulheres vivem em desvantagem por serem mulheres e a de que essa desvantagem pode e deve ser abolida" (Heywood, 2010, p. 21).…”