O artigo analisa as agências e r-existências indígenas na Amazônia em face da ação tutelar do Estado brasileiro no século XX, com foco nas experiências do povo Tenetehar-Tembé do alto rio Guamá. Em 1945, uma reserva foi criada e doada aos Tembé e outros indígenas do nordeste paraense, com o intermédio do SPI. Essa reserva trouxe novas condições de organização política e sociocultural entre os Tembé no Guamá em face dos exercícios de controle tutelar e imposição de condutas “civilizadoras” pelos agentes do SPI – e, posteriormente, da FUNAI. Essas experiências no âmbito da reserva levaram os Tenetehar-Tembé a gestar uma nova territorialidade e modos de vivência comunitária enquanto "resposta" possível às violências do Estado. Assim, através da memória e narrativas orais desse povo, intercruzadas com a documentação do SPI, foi possível observar e compreender suas estratégias de r-existência que articulam processos interétnicos e alicerçam hoje sua cultura e conexões tradicionais com o território no alto rio Guamá. Com isso, percebe-se os horizontes interpretativos da história Tembé e preenchendo certas lacunas existentes na documentação oficial do indigenismo brasileiro, de modo a centralizar as experiências e historicidades indígenas a partir de seus próprios pontos de vista.