Piero de Camargo Leirner Professor do Departamento de Ciências Sociais -UFSCAR e NAU/ USPRESUMO: Este artigo pretende discutir algumas questões que envolvem a análise antropológica do Estado, tomando como base duas experiências etnográficas distintas: uma pesquisa com o exército, outra com órgãos de defesa do consumidor. Com esse objetivo, desenvolve-se uma reflexão preliminar sobre problemas teóricos e metodológicos relacionados ao estudo de objetos dessa natureza em nossa sociedade. PALAVRAS-CHAVE: Estado, Antropologia Urbana, EtnografiaO interesse da antropologia brasileira pelo estudo etnográfico de setores que compreendem o universo do Estado é recente 1 . Nos últimos anos, porém, o surgimento de trabalhos ainda esparsos, de pesquisadores geralmente jovens e em fase de formação, começa a delinear uma tendência crescente de realização de pesquisas com setores da burocracia estatal 2 . A perspectiva etnográfica que os caracteriza, assim como suas preocupações teóricas, conferem a esses novos estudos antropológicos -ou, pelo menos, a boa parte deles -um caráter marcadamente diferenciado em relação às abordagens mais características da sociologia e da ciência política nas suas análises do Estado brasileiro. Embora distantes no tempo e no espaço dos clássicos da "antropologia política" da década de 1940, esses trabalhos respiram algo de sua inspiração.
IntroduçãoPretendo trabalhar neste artigo com um tema pouco explícito na antropologia e que pode assumir diferentes facetas: as relações entre militares e antropó-logos. Menos do que retomar toda uma complexa história de relações entre antropólogos e agências estatais -cuja ampla discussão tem sido alvo de um intenso esforço reflexivo na antropologia (Neiburg & Goldman 1998; Almeida 2004) -minha intenção aqui é analisar algumas consequências do "contato direto" entre antropólogos e militares, seja ele causado por engajamento de antropólogos em instituições militares, seja ele resultado de um "choque cultural" (nos termos de R. Wagner 1981:6-13) 1 provocado por uma intenção de etnografar militares. Quero começar retratando duas possibilidades para a relação: uma antropologia militar (de "posse" dos militares), e uma antropologia dos militares (relativa aos militares). 2 Acredito que novos objetos sempre trazem novos problemas. Que se tenha notícia é possível contar nos dedos quantos estudos antropológicos dedicaram-se a realizar etnografias sobre militares. Mais precisamente, e ainda que seja complicado ter uma noção total de número e qualidade de "etnografias de" qualquer coisa, é possível supor com uma relativa margem de segurança que até 2007 eram seis: 3 uma de um israelense (Ben-Ari 1998); duas de norteamericanas (Simons 1997; Lutz 2002); uma de um argentino (Badaró 2006); e duas de dois brasileiros (Castro 1990;Leirner 1997). Pelo menos os três últimos se conhecem, e compartilharam experiências de campo muito semelhantes. Uma delas, que pretendo desenvolver no âmbito deste artigo, diz respeito ao controle e ao padrão de relação que os militares pretendiam estabelecer em relação aos antropólogos que os estudavam e, se possível, também em relação à antropologia como uma forma de saber útil de seu ponto de vista.Talvez seja o caso de já esclarecer que não somente a antropologia tem uma utilidade para os militares, como também não é só para militares que ela
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