Este artigo parte da hipótese de que, no Brasil, classificar trabalho de plataforma como precarização é um discurso de classe, presente entre os cientistas nacionais por um duplo problema: de um lado, a incorporação de modo acrítico da produção acadêmica sobre mundo do trabalho desenvolvida no Norte Global; do outro lado, a falta de escuta dos trabalhadores de plataforma. Num primeiro momento, faz-se uma revisão de literatura que explora o ideário predominante sobre trabalho informal e trabalho de digital em nosso país, revelando-se como tal ideário não se assenta em dados e conceitos pensados para o Sul Global. Na sequência, alguns dados e construções teóricas sobre pesquisas com trabalhadores de plataforma do Sul Global são apresentados e problematizados, para então se buscar costuras com a comunicação. Esta é apresentada a partir de literatura criada para se refletir a respeito das plataformas, enquadradas como mediações forças produtivas e relações de produção. Ao final do estudo, apresentam-se dados coletados por meio de pesquisa exploratória realizada em São Paulo com nove trabalhadores de plataforma, cujos resultados sugerem uma heterogenia de sentidos e significados sociais atribuídos a este tipo de ocupação. Os próprios trabalhadores de plataforma não se enxergam, necessariamente, como precários. E talvez não o sejam, quando se coteja a percepção indicada com realidades por vezes inimagináveis no contexto do Norte Global.