Resumo Este trabalho teve como objetivo compreender as vivências e os sentidos do bullying experienciados por lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e outras identidades. Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada com nove participantes, maiores de dezoito anos e que se identificam como integrantes do grupo de interesse, por meio de entrevistas conduzidas a partir de um roteiro semiestruturado. A análise do corpus foi guiada pela teoria social do discurso e auxiliada pelo software Kitconc 4.0. Os relatos mostram a contraposição entre a temporalidade do termo bullying, estrangeirismo do século XXI no contexto brasileiro, e a constante presença das violências em espaço escolar nas trajetórias das e dos participantes. O avanço das tecnologias comunicativas também constitui esse mar de bullying ao propiciar a ampliação do alcance de cenas violentas e ao globalizar o vexame, o xingamento e o soco. A forma de lidar com isso perpassa o enfrentamento direto, incitando a comunidade escolar a debater e a proteger crianças e adolescentes marcados pela hegemonia cis-heteronormativa. Desse modo, é na resistência do existir que corpos em assembleia esperançam e reivindicam os direitos inerentes à vida, avançando para além da sobrevivência e da cidadania regulada. Adolescentes e crianças atravessadas pelo bullying são potências de si mesmas e cabe a nós, agora adultos, o compromisso ético de possibilitar outras formas de estar neste mundo.