Feiras, feirantes e abastecimento: uma revisão da bibliografia brasileira sobre comercialização nas feiras livres 3 Introdução No Brasil as feiras livres remontam ao período colonial. A importância dessas feiras se manifesta no abastecimento direto de consumidores, na geração de renda para a população rural e na animação do comércio urbano. Mas sua relevância ultrapassa a economia para compreender também hábitos alimentares, costumes sedimentados e a própria cultura. Prova isso o destaque das feiras nas diversas manifestações culturais brasileiras. Luiz Gonzaga exaltou a feira de Caruaru em música de 1957, pois "de tudo que ai no mundo, nela tem prá vender". Sivuca, em 1978, resumiu o mosaico das feiras nordestinas de varejo em "Feira de mangaio". E Elomar destacou a importância da feira para a moça do campo em "O pedido" (1982), um longo rol que, matreiramente, a moça passa ao amigo, pois "já que tu vais lá na feira, traga de lá para mim", e encomenda "água da fulô que cheira, um nuvelo e um carmim (...)" e, dengosa, pede que "ah, se o dinheiro desse, eu queria um trancelim..." Feiras foram eternizadas no cinema. Numa delas, o vaqueiro Manuel selou seu destino ao matar o patrão e, por escolha, acompanhou o beato Sebastião; depois, por falta de escolha, se transformou no cangaceiro Satanás ao se unir ao bando de Corisco, na fórmula usada por Glauber Rocha em Deus e o diabo na terra do sol (1964) para resumir os destinos dos camponeses do Semiárido. Em A grande feira (1961), Roberto Pires registrou os feirantes em confronto com a empresa que ambicionava o espaço da feira baiana de Águas de Meninos. As feiras também foram cenários de romances, contos e crônicas.