Este artigo busca refletir sobre algumas transformações que diferentes grupos indígenas do alto Rio Negro (Amazonas, Brasil) vêm experimentando, especialmente desde os anos 1980, no tocante à compreensão que eles têm de uma "hierarquia" entre eles. Fundamentalmente, isso vem ocorrendo no mesmo passo em que se embaralha a ela uma série de elementos que eles chamam de "políticos", sobretudo a partir da consolidação de um movimento indígena cujo centro de gravidade está localizado na Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN). A partir desta, vemos como novas "lideranças" abrem um caminho paralelo a posições tradicionais, ao mesmo tempo que dialeticamente trabalham para sua manutenção em um lugar de "tradição cultural", assegurando seu status original. Com isso, nosso argumento gira em torno do fato que o efeito colateral desse agenciamento em duas direções é uma "inflação" de uma nova classe política, correspondente a certas posições de "status mediano", ao mesmo tempo que ocorre uma retificação das posições de "alta hierarquia" no complexo mutiétnico rionegrino. PALAVRAS-CHAVE: hierarquia, políticas, movimento indígena, alto Rio Negro. Hierarchy politics and political shifts in upper Rio Negro: some indigenous transformations This article aims to reflect on some transformations that different indigenous groups of the upper Rio Negro (Amazonas, Brazil) have been experiencing especially since the 1980s, with regard to their understanding of a "hierarchy" between them. Fundamentally, this is happening as that "hierarchy" is shuffled with a set of elements that they might call "political," especially upon the consolidation of indigenous movement in the Federation of Indigenous Organizations of Rio Negro (FOIRN). From the FOIRN, we see how new "leaderships" open a parallel path to traditional positions, while at the same time they dialectically work for their maintenance in a place of "cultural tradition," assuring an original status. With this, our argument turns around the fact that the side-effect of this double-way agency is an "inflation" of a new political class corresponding to certain positions of "middle status," while simultaneously there occurs a rectification of "higher hierarchy" positions in the multiethnic complex.
Desde antes da demarcação das primeiras terras indígenas no alto rio Negro (há mais de vinte anos), população e lideranças indígenas regionais atuam constantemente em processos de reflexão e avaliação de algumas de suas experiências de gestão territorial e relações com o Estado. Atualmente, desenvolvem essas atividades com os instrumentos da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras Indígenas (PNGATI). Refletir a partir de algumas das dissonâncias e traduções implicadas nas relações entre indígenas e Estado no tocante às territorialidades e às gestões das mesmas (que envolvem também, evidentemente, a gestão da própria relação que se quer estabelecer com o Estado, do ponto de vista indígena) é o principal objetivo deste artigo.
resumoÀ luz de algumas considerações etnográficas sobre o ethos rionegrino de valorização e incorporação da alteridade, este artigo reflete sobre a avaliação feita pelos próprios índios a respeito da "gestão indígena" na prefeitura de São Gabriel da Cachoeira (AM). O argumento é que, sendo a prefeitura um elemento que implica em relações exteriores ao mundo indígena, a tentativa de indigenizá-la exigiria pelo menos dois procedimentos: a incorporação de relações e "elementos de alteridade", e a incorporação de índios na prefeitura. Segundo alguns dos envolvidos nessa experiência, a gestão "não teria sido indígena", pelo excesso de "gente de fora" e por uma certa "contaminação" do prefeito pela "política dos brancos". Pergunta inescapável, no entanto, é referente ao quanto o próprio Estado suportaria uma dinâmica que implica na simultaneidade de diferenças intrínsecas às relações entre índios na região. A análise sugere que, antes de uma suposta incapacidade indígena para a gestão do Estado, há a incapacidade do Estado em lidar com/incorporar diferenças e alteridades. palavras-chavePrefeitura indígena, política ameríndia, alteridade, Alto Rio
Este artigo é uma reflexão sobre a “gestão indígena” na prefeitura de São Gabriel da Cachoeira (alto rio Negro), onde a eleição de uma chapa composta por prefeito e vice-prefeito indígenas, no ano de 2008, marcou a história política municipal. Uma história na qual os índios passaram a incorporar (não sem transformar) técnicas e habilidades até então exclusivamente operadas por brancos, consolidando, a partir dos anos 1970, um movimento indígena organizado, pensado localmente, dentre outras coisas, como espécie de “laboratório” para a política partidária. O artigo apresenta dados etnográficos que demonstram como os brancos e o Estado são tomados como agentes privilegiados nessas relações políticas cujos sentidos transformacionais são diversos.
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