Considerações introdutóriasTendo em vista os inúmeros acontecimentos ocorridos nos últimos tempos no campo do conhecimento, entre eles a crítica à racionalidade instrumental, o perspectivismo interpretativo e o movimento da virada para a linguagem, tem-se utilizado muito na educação a abordagem das pesquisas qualitativas. Trata-se de um modo de investigação surgido com o movimento de rejeição ao modelo positivista de produção do conhecimento, que se estende desde a fenomenologia, passando pela hermenêutica, à dialética em seus diferentes desdobramentos, tendo como objetivo principal apreender os fatores não considerados pelas pesquisas de ordem hipotético-dedutivas. Podemos dizer que as pesquisas qualitativas surgem com a certificação dos limites das pesquisas quantitativas, especialmente no que se refere às ciências sociais e humanas. Não há dúvida de que elas trouxeram muitos benefícios para a educação, pois foi por seu intermédio que passamos a considerar elementos não mensurados por meios matemáticos, como a subjetividade, os valores, os contextos, os sentimentos, as diferenças e as questões sociais e culturais, entre outros.No entanto, a ampliação do leque de perspectivas de tratamento do objeto educacional não se fez acompanhar de um necessário aprofundamento teórico. Por isso existem no ambiente acadêmico algumas suspeitas de que a pesquisa qualitativa estaria contribuindo para que a educação se tornasse empobrecida, tendo em vista a sua falta de "rigorosidade" nas investigações. Essa preocupação também é compartilhada por Alves-Mazzotti (1991, p. 54), quando diz "que muitos estudos ditos qualitativos não passam de relatos impressionistas e superficiais que pouco contribuem para a construção do conhecimento e/ou a mudança de práticas correntes". Brito e Leonardos (2001, p. 11) consideram que o seu desenvolvimento fora do paradigma hegemônico tenha provocado nessas pesquisas um "sofrimento por sua precocidade". Nessa mesma linha de raciocínio, Moraes (2001) atenta para o fato de que a educação vive um momento de "recuo da teoria"; Mazzotti e Oliveira (2000) dizem, apoiados em Tardy, que se trata de uma "debandada epistemológica"; Flickinger (1998) afirma que falta à educação 148Revista Brasileira de Educação v. 15 n. 43 jan./abr. 2010
Palavras-chave: filosofia da educação; formação de professores; teoria; prática; reconhecimento do outro.Filosofia da Educação e formação de professores no velho dilema entre teoria e prática 1 Philosophy of Education and formation of teachers in the old dilemma between theory and practice 1 Este artigo é resultado do projeto de pesquisa Teoria e Prática da Formação no Reconhecimento do Outro, financiado com bolsa produtividade em pesquisa do CNPq. Agradeço às revisões e sugestões dos profs. Claudio Almir Dalbosco (UPF), Catia Piccolo Viero Devechi (UnB) e Maiane H. Ourique (UFPel). ABSTRACTThe discussion about the formation of teachers in Brazil seems to follow the movement from the theory pole to the practice pole, that is, from the "must be" to the "do" of the teacher, following the paradigm shift that guided the emergence of the modern understanding of knowledge. However, what is observed in the proposed model, underlying the legislation, is a highly problematic attempt to minimize its distance, as it just states otherwise the same dichotomy. There is not correct solution or equation, because it just dilutes the practice throughout theoretical route, without understanding properly the meaning of the practice turning. Therefore, the paper aims at proposing a reformulation of the relationship between theory and practice developed by the Brazilian education, while crystallized in the rules about formation of teachers, from the reflection on a Philosophy of Education inspired by the theory of social recognition of the other.A aversão à teoria, característica de nossa época, seu atrofiamento de modo nenhum casual, sua proscrição pela impaciência que pretende transformar o mundo sem interpretá-lo, enquanto, em seu devido contexto, afirmavase que os filósofos até então tinham apenas interpretado -tal aversão à teoria constitui a fragilidade da práxis (ADORNO, 1995, p. 211).
A formação de professores é tema provocativo de um debate infindável, ao mesmo tempo, porém, muito frutífero para o avanço da investigação educativa no Brasil. São muitas as pesquisas, principalmente de pós-graduação, que discutem o assunto. E não é por acaso, pois se trata de uma preocupação característica do momento histórico atual, que busca aclarar as bases teóricas da formação para que seja possível uma educação de qualidade a todos. As motivações deste estudo buscam aliar-se à urgência no enfrentamento desses problemas do campo da formação detectados nas pesquisas acadêmicas, que infelizmente têm sido tratados por vezes de forma apenas corriqueira. Porém, mais do que isso, exigiriam na verdade uma reformulação de seu campo conceitual. Em vista dessa enorme exigência, pretendemos neste trabalho cumprir uma tarefa, definida pela filosofia da educação, de maneira apenas aproximativa, propondo um olhar hermenêutico-reconstrutivo com o intuito de repensar os eventuais equívocos nos rumos do debate.
Resumo: O campo dos estudos sobre ciência e tecnologia e seus benefícios na vida das populações está sendo questionado de maneira veemente nos últimos tempos. A justificativa de que o desenvolvimento da ciência e da tecnologia avança de maneira inexorável e neutra caiu por terra, frente às inúmeras confrontações e limites a que ficou exposta essa racionalidade. São muitos testemunhos e mesmo movimentos teóricos que questionam essa crença atualmente. Nesse texto, pretende-se delimitar alguns marcos teórico-conceituais nos quais se desenvolvem tais propostas do ponto de vista de sua relação com a educação. Para isso, parte-se da discussão, proposta por Marilena Chauí, sobre o modo como se constitui a racionalidade moderna e sua forma de apropriação pelas populações através da ideologia do cientificismo. A seguir, a crítica a essa racionalidade é avaliada segundo os preceitos da Escola de Frankfurt, especialmente na visão de Marcuse e Feenberg. Por último, procura-se apresentar alguns fundamentos dos estudos do movimento Ciência, Tecnologia e Sociedade (CT&S) sobre essas questões, derivando reflexões para o campo da educação. Trata-se de avançar a discussão de suas origens, conforme exposto na filosofia da tecnologia, de Heidegger, a qual acredita ser destino da humanidade viver sob a égide da técnica, em busca de uma outra relação com a realidade, mais em harmonia com a natureza.Palavras-chave: Filosofia da tecnologia. Sociedade. Educação. Philosophy of technology and education: Conservation or innovative critique of modernity?Abstract: The field of studies about science and technology and its benefits in the lives of the people have been vehemently questioned in recent times. The justification that the development of science and technology advances inexorably and neutrally fell apart in front of the numerous confrontations and limits that was exposed this rationality. There are many testimonies and even theoretical movements that challenge this belief today. In this text, there is the intention to define some theoretical and conceptual frameworks in which ones these proposals have been develop in terms of their relation to education. For this, it starts from the discussion, proposed by Marilena Chauí, about how modern rationality is constituted and its form of appropriation by the people through the scientism ideology. Following, the criticism of this rationality is assessed according to the precepts of the Frankfurt School, especially under the view of Marcuse and Feenberg. Finally, it has been trying to present some fundamentals of the Science, Technology and Society studies (ST& S) on these issues, deriving reflections to the field of education. It comes to advance the discussion of its origins, as discussed in Heidegger's philosophy of technology, which it is believed to be the fate of humanity, living under the aegis of the technique, in search of a different relationship with reality, more in harmony with nature.
RESUMO: O artigo discute a reconstrução dos sentidos das tecnologias na educação, para pensá-las de forma crítica. O problema de pesquisa visa compreender a relação entre educação e tecnologia e seus entrelaçamentos pedagógicos, tendo por base os estudos de teóricos críticos sobre a filosofia da tecnologia, procurando elucidar as contradições formativas e como esse universo é apropriado nas práticas pedagógicas, tendo em vista que, muitas vezes, isso robotiza tais práticas. Nesse sentido, pergunta-se pelas alternativas contra-hegemônicas para fomentar diálogos e questionar a razão operacional das tecnologias na educação, cuja operacionalidade ainda serve de inspiração para resolver os problemas educacionais.Palavras-chave: Tecnologias. Educação. Instrumentalidade técnica. For a reconstructive culture of the senses of technologies in educationABSTRACT: The article discusses the reconstruction of the meanings of technologies in education, to think critically. The research problem aims to understand the relationship between education and technology and its pedagogical interlacings, based on the studies of critical theorists about the philosophy of technology, seeking to elucidate the formative contradictions and how this universe is appropriate in pedagogical practices, considering that often this robotizes such practices. In this *O artigo está vinculado ao projeto de pesquisa As tecnologias na educação: desafios e enfrentamentos à tradição instrumental. Esta pesquisa conta com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS).
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