Neste artigo, buscamos refletir sobre o texto enquanto um trabalho processual que demanda esforço e envolve diversas etapas. Ancoradas teoricamente no Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 2015 [1930-1936]; 2016 [1952-1953]; VOLÓCHINOV, 2018 [1929]; 2019 1930]), para quem a linguagem é viva e dialógica, apresentamos uma proposta de modelo de processamento da escrita, assumindo a ideia de que um texto escrito é sempre elaborado no fenômeno social da interação discursiva e, dessa forma, mais do que etapas distintas, abrange aspectos históricos, ideológicos, cognitivos, textuais e discursivos. Os dados que analisamos, relacionados ao processo de construção de uma resenha acadêmica elaborada por uma estudante universitária, mostram que não se pode falar em processamento textual sem levar em consideração o contexto situacional, os campos de atuação humana, os gêneros do discurso, as relações dialógicas, além da mobilização de conhecimentos e das próprias etapas de escritura. Além disso, o material de análise comprova que apenas com trabalho e esforço é possível produzir um texto escrito.
Em toda sua obra, Mikhail Bakhtin evidencia a importância do outro na comunicação discursiva. Segundo o autor, todas as manifestações e relações da vida humana são atravessadas por relações dialógicas e a linguagem só existe na comunicação dialógica entre um eu e um outro, um falante e um ouvinte. Para ele, o outro é quem orienta a enunciação, pois as escolhas linguísticas dos interlocutores são feitas sob influência do destinatário e sua resposta antecipada. Trata-se da perspectiva dialógica da linguagem, cerne de toda discussão empreendida por Bakhtin (2011a; 2011b; 2011c; 2014; 2018). É a partir dela que buscaremos, neste artigo, compreender como acontece a escrita conjunta no processo de construção de uma resenha acadêmica escrita por duas duplas de estudantes universitários, observando as estratégias de negociação utilizadas, as escolhas linguísticas que fazem e a participação efetiva de cada indivíduo durante a produção textual, com vistas a verificar de que maneira um influencia o outro nesse processo. De modo geral, o que nossas análises mostraram é que a escrita conjunta só acontece efetivamente quando há contribuição, participação e escolhas de todas as partes, ainda que uma delas sobressaia em relação a outra.
Neste trabalho, propomos uma aproximação entre o conceito de gênero e a Crítica Genética, a partir da análise de dados do processo de construção de uma resenha escrita por uma dupla de estudantes universitários. A noção de gênero que adotamos é a de Bakhtin (2011), para quem gêneros são “tipos relativamente estáveis de enunciados” produzidos pelas esferas de utilização da língua. Para tratarmos da Crítica Genética, área da Literatura que dá ao texto a perspectiva do processo, recorremos, entre outros, a Salles (2000) e Biasi (2006). Assim como fazem os geneticistas, lançamos um olhar para o processo: o que nos interessa é o vir a ser e não apenas o produto. Nossas análises mostraram que dados processuais nos permitem chegar a detalhes muito específicos da construção do texto, os quais não teríamos acesso apenas com o texto pronto, como os motivos que levaram os estudantes a fazerem determinadas escolhas genéricas.
Data de submissão: fev. 2018 -Data de aceite: jun. 2018 http://dx.doi.org/10. 5335/rdes.v14i2.7992 Neste artigo, aborda-se a resenha acadêmica como um produto de retextualização. Ancorados em Marcuschi (2010) e Matencio (2002), compreende-se a retextualização como um processo de transformação de um texto em outro, que envolve aspectos linguísticos, textuais, discursivos e cognitivos. Dessa forma, objetiva-se descrever as operações textuais e discursivas envolvidas no processo de retextualização de um curta-metragem para a escrita de uma resenha acadêmica. Para isso, será utilizada uma resenha acadêmica escrita por uma dupla de estudantes universitários, e seus dados processuais, a partir do curta metragem Vida Maria. As análises mostraram que, na resenha analisada, os sujeitos estabeleceram uma relação com o curta metragem, ao mesmo tempo em que se posicionaram como avaliadores da obra, mantendo, para isso, um vínculo com a estrutura retórica do gênero e com o texto-base.Palavras-chave: Escrita acadêmica. Resenha. Retextualização. IntroduçãoO objetivo deste artigo é descrever as operações textuais e discursivas envolvidas no processo de retextualização de um curta-metragem para a escrita de uma resenha acadêmica.Entendemos a retextualização a partir de Matencio (2002) e Marcuschi (2010), que definem o processo como sendo a reformulação de um texto, na qual ocorrem variações de gêneros textuais, objetivos, estilos e níveis linguísticos. Em outras palavras, a retextualização é a produção de um novo texto a partir de um ou mais textos-base; é dizer de outra maneira, em outro gênero e/ou em outra modalidade o que já foi dito ou escrito por alguém. Dessa maneira, uma vez que
Tendo em vista que várias áreas da nossa vida em sociedade estão organizadas em termos legais, conhecer os gêneros jurídicos é de suma importância para que exerçamos nossos direitos. Nessa perspectiva, nosso propósito é investigar um desses gêneros, a denúncia, do ponto de vista de seus aspectos temáticos, estilísticos e composicionais, e também do ponto de vista de suas condições de produção. Para isso, recolhemos 12 exemplares de denúncias da Vara Crime da Comarca de Mutuípe-BA, e outros 10 exemplares da internet, de comarcas diferentes. No que diz respeito ao conceito de gêneros discursivos, encontramos em Bakhtin (2011) o nosso aporte teórico. No âmbito jurídico, nossa base teórica está em Felippi Filho (2012), no Código de Processo Penal e em manuais de Direito. A partir de nossas análises, pudemos constatar que a denúncia é um gênero bastante rígido, padronizado e pouco acomodatício a entradas individuais.
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