A charge, um gênero textual-discursivo que denuncia uma realidade social, apresenta a ironia como um gesto, marcada pelo humor não risível. Para refletir sobre esta questão, objetiva-se evidenciar relações interdiscursivas em duas charges veiculadas em um contexto social, político e pandêmico de produção. Como objetivo específico, analisa-se como elementos verbo-visuais e discursivos resultam no humor crítico, o não risível no humor. Tal proposta justifica-se pela importância social deste gênero, visto que a crítica nele expressa, pelo jogo entre imagens e palavras, chama a atenção dos leitores para um problema atual, a pandemia de coronavírus, da mesma forma que a linguagem multissemiótica possibilita refletir sobre temas públicos. A metodologia desta pesquisa seguiu uma abordagem qualitativa de natureza interpretavista, fundamentada no enquadramento teórico da Análise do Discurso, em interlocução com a multimodalidade, com a análise de duas charges. Os resultados obtidos no exemplário indicam a presença de interdiscursos que disfarçam, por meio da ironia e do discurso jocoso, críticas a eventos ocorridos a partir da realidade vivenciada no contexto pandêmico, com multimodos sígnicos.
Partindo dos conceitos de enunciação postulados por Benveniste (1989), Ducrot (1987, 2002) e Guimarães (1989; 1995; 1996 e 2002), associados aos estudos de Dias (2002), entre outros; procuramos evidenciar os lugares de ocupação do sujeito e recortamos um exemplário de ocorrências extraídas de anúncios publicitários veiculados em fontes diversas. Por meio dos dados analisados, verificamos o caráter multifacetado que a língua pode apresentar, não fazendo sentido porfiar por uma formulação exata, estrita e restritiva de uma só possibilidade de análise, o que não caracteriza a abordagem como falha, ou imprecisa. Nessa direção, concluímos que o estudo da linguagem, do ponto de vista de uma sintaxe de bases enunciativas, contempla o uso relativo a tempo, espaço e sujeito da enunciação e a consideração de que enunciar é um ato singular de utilização da língua e como tal deve ser analisado.
As transformações da indústria audiovisual fomenta(ra)m formas outras de denúncias sociais, a exemplo da violência de gênero, de raça etc., contra as quais a sociedade luta no processo de formação civilizatória. A ligação intersemiótica, pois, comporta-se como importante ferramenta de construção crítica e engajamento coletivo frente à minimização de chagas antropológicas, responsáveis por impossibilitar a efetivação da dignidade humana. Isso porque as projeções imagéticas tendem a solicitar aos participantes interativos comandos, ações, posicionamentos diante das problemáticas suscitadas, a partir de estratégias psicossociais. Recorte do projeto de iniciação científica "Mulheres em (dis)cursos: representações identitárias na série "Bom dia, Verônica", com o fomento da Fapemig, edital PIBIC PRP 6/2021, objetivamos analisar significados multissemióticos que simbolizam, no imaginário dos espectadores das cenas dessa série, a vulnerabilidade feminina e, consequentemente, a violência contra a mulher na tessitura civil, sobretudo em relacionamentos heteronormativos. Nesse viés, torna-se imprescindível enfatizar a relevância das composições multimodais, mobilizadas nas e pelas relações interpessoais e instigadas por diferentes interesses sociossemióticos, com os discursos não materializados apenas por artefatos verbo-gráfico-fonêmicos, cujo caminho teórico norteador perpassa pela Linguística Sistêmico-Funcional (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014MATTHIESSEN, [2004), interessada em investigar a dinamicidade da língua para além da estrutura formal, em interlocução com a Gramática do Design Visual (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006), que legitima o papel das imagens na veiculação de discursos, interpretando significados visuais. A relevância desta pesquisa justifica-se por buscar refletir, discutir e enfrentar a intempérie social da invisibilidade do arquétipo feminino, denunciando relações hegemônicas de poder, cultural e historicamente enraizadas na coletividade, em que ainda permanecem cristalizadas vertentes ideológicas machistas e patriarcais (FAIRCLOUGH, 2001; 2003; 2010). Com essa proposição, visamos desnaturalizar a inferiorização feminina, reportando a elas o protagonismo e a emancipação no progresso coletivo, para que, seguras, possam fincar a representatividade que subjaz das vivências socialmente construídas.
IntroduçãoA língua, como sistema interpretante, carrega uma multiplicidade de efeitos de sentido. Nesse contexto, as histórias em quadrinhos são meios de fabulação visual do planeta (PATATI; BRAGA, 2006), nas quais os participantes das imagens interpretam a realidade, encenando significações narrativas e conceitos, com ironia. Por essa via, objetivamos, neste recorte do projeto "Uma análise das representações narrativas e conceituais nas tirinhas de Mafalda", Edital PRP 5/2021, na modalidade ICV na tirinha "Mafalda e a escola", construir sentidos que as imagens têm, interpretando os papéis semióticos plurissignificativos, com a análise dos significados e da ironia. Tomando esse objeto analítico, apoiamo-nos no quadro teórico-metodológico da Gramática Sistêmico-Funcional (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004) e do Design Visual (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006), na consideração de modos semióticos essenciais à construção de conhecimentos e de significados. A proposta metodológica, qualitativo-interpretativista, opera com as experiências de vida e a forma como os participantes se posicionam no mundo, com a linguagem a serviço da reflexão sobre a realidade, utilizada para representar o mundo do falante, permitindo-lhe interpretar e organizar experiências, e com conceitos (significados conceituais), enfatizando o tom irônico. A pesquisa foi motivada por considerar que os multimodos "[...] se propõem a estender letramentos para além das restrições da linguagem escrita e falada para se conectar às paisagens cultural e linguisticamente diversas e aos textos multimodais que são mobilizados e circulam por essas paisagens (JEWIT, 2008, p. 145)". Os resultados apontam que os artefatos sígnicos veiculam representações multissemióticas incrustadas nas tirinhas, com o entendimento de que a humor se presentifica não como o risível, pois o riso pode ser o efeito do humor, jamais a causa ou razão da existência dele. Procedimentos metodológicosValemo-nos de conceitos e categorias de análise propostas pela Gramática Sistêmico-Funcional e pela Gramática do Design Visual (doravante GDV). Para delimitar este estudo em uma tirinha, recorremos, numa análise qualitativo-interpretativo, às categoriais de análise com base nos significados ideacionais e representacionais, via sistema de transitividade, evidenciando a hibridização da linguagem, pois "[...] a linguagem verbal não ocorre isoladamente, mas sim de forma integrada e dependente de outras formas para produzir significações" (HEBERLE, 2012, p. 88). Num primeiro momento, numa leitura sociossemiótica verbal, no que concerne aos significados ideacionais, arrolam-se três processos, escopo deste estudo. Materiais
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