O uso da entrevista na pesquisa-intervenção participativa em saúde mental: o dispositivo GAM como entrevista coletivaThe use of interviews in participative intervention and research: the GAM tool as a collective interview
Resumo: Este artigo apresenta uma pesquisa que objetivou comparar metodologias de pesquisa no campo de estudos da memória, no contexto da retomada do tema da consciência e da experiência na Psicologia cognitiva. Assumindo a perspectiva da teoria da enação de Francisco Varela, entendemos que a experiência não é representação de um mundo pré-dado e que sujeito e objeto são coemergentes. O projeto pretendeu comparar as metodologias quanto às suas possibilidades de acesso à experiência. Para tanto, buscamos comparar uma metodologia de terceira pessoa e uma de primeira pessoa no estudo do fenômeno denominado "falsa lembrança". Utilizamos como metodologia de terceira pessoa um protocolo experimental baseado num experimento de desinformação formulado por Belli e, como metodologia de primeira pessoa, desenvolvemos uma técnica de entrevista inspirada na Entrevista de Explicitação de Pierre Vermersch, denominada entrevista cartográfica. Este artigo apresenta alguns dos resultados desse projeto, sobretudo no que diz respeito ao acesso à experiência de lembrar nas entrevistas. A metodologia de terceira pessoa mostra restrições no acesso à experiência mesma do lembrar, uma vez que ela não se refere diretamente à experiência, mas às variáveis de "tempo de reação" e "escore de acertos" a questões pré-definidas. Há, portanto, uma tendência judicativa em relação à experiência subjetiva. Já nas entrevistas, pudemos observar diferentes movimentos de maior ou menor acolhimento da coemergência. Definimos três categorias como indicadores desses movimentos: automatismo, controle egoico e autonomia coletiva, que são descritas no artigo.
Nos últimos vinte anos tem se ressaltado nas ciências cognitivas o interesse por metodologias de primeira pessoa para investigar a experiência. Queremos neste artigo interrogar o estatuto epistemológico dessas metodologias, a partir da abordagem da enação. Utilizaremos trabalhos de Varela e de comentadores de sua obra, como Evan Thompson e Antoine Lutz, sobre as metodologias de primeira pessoa. O reencantamento do concreto proposto por Varela para os estudos da cognição se coloca, a nosso ver, para as metodologias de primeira pessoa, a partir da abordagem pragmática da fenomenologia formulada por Depraz, Varela e Vermersch. Buscamos demonstrar que as metodologias de primeira pessoa, assim como toda atividade de conhecimento, possuem um caráter enativo.
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