Este artigo apresenta um panorama do problema da violência nos estudos sobre a significação. Apontamos que a violência não é um traço acidental no uso da língua: a violência tanto oblitera o significado quanto gera, talvez como efeito perlocucionário, novas possibilidades de significação. O artigo propõe inicialmente uma crítica à posição vitalista nos estudos da linguagem. Em seguida, o trabalho propõe, numa visada pragmática, uma definição para violência linguística. Chamamos de violentos os usos linguísticos que posicionam o outro – especialmente aquele que representa a raça, o gênero, a sexualidade e o território que não se quer habitar – num lugar vulnerável. Trata-se de usos que atingem o sujeito em seu ponto mais frágil, a sua condição. O artigo finalmente analisa a mediação de um caso recente de crime de racismo, uma instância de uso violento da língua.
RESUMO Este artigo tem por objetivo descrever algumas formas de resistência a arranjos violentos contemporâneos - entendidos como as relações tensas, no Brasil, entre grupos do crime organizado violento e entre estes e o mundo público - que emergiram na fala de pessoas que sobreviveram ou foram afetadas por um atentado terrorista no bairro do Benfica, em Fortaleza, CE, ocorrido em março de 2018. Em linha com outros estudos sobre formas de florescimento subjetivo e coletivo em circunstâncias de violência ou destruição política, damos o nome a essa forma de resistência de 'esperança'. A partir de entrevistas com dois sobreviventes do atentado, uma professora e um ativista de direitos humanos, defendemos que ter esperança, nesses diálogos que buscavam ressignificar uma fratura, significou responder à violência não por meio de vingança ou de mecanismos extralegais ou excepcionais de violência reativa mas por meio de tropos que informam a defesa dos direitos humanos.
No estado do Ceará, na região da Chapada do Apodi, uma articulação político-acadêmica, o Movimento 21(M21), se organiza para o enfrentamento do modelo econômico do agronegócio e suas consequências relacionadas à expulsão dos camponeses e à degradação do meio ambiente com utilização massiva de agrotóxicos. O M21 é constituído por diversos movimentos sociais e grupos acadêmicos que se articulam em defesa das lutas das comunidades do campo, da Chapada do Apodi no município de Limoeiro do Norte, Ceará, por meio de práticas discursivas que pretendem romper com as fronteiras tradicionais entre os saberes acadêmicos e os saberes populares. O objetivo deste artigo é compreender, a partir de uma perspectiva teórica descolonial e de uma proposta de análise retórica em uma abordagem crítico-discursiva (Nogueira de Alencar, 2005), como se dá a construção de significados identificacionais (Fairclough, 2003) nas práticas discursivas das (os)integrantes do M21. Por meio de etnografia realizada em espaços públicos em que militantes dos movimentos sociais, camponesas(es), educadoras(es), pesquisadoras(es), lideranças religiosas, lideranças políticas e moradoras(es) das comunidades da Chapada do Apodi falam sobre as ações de violência no campo contra pessoas e contra o meio ambiente, o artigo discute a performatividade, constitutiva de significados identificacionais híbridos para essa(e)s militantes por meio de um “falar da fronteira” e de “um falar do hibridismo” que atravessam esses encontros. Levando em conta a multiplicidade de agentes em interação, a diversidade de práxis educativa de cada coletivo envolvido no M21, assim como a literatura descolonial proposta por Paulo Freire, a análise considera que as implicações políticas do hibridismo presente nas práticas político-discursivas do M21 apontam para a constituição de um discurso de hibridismo emancipatório. Os espaços públicos de locução indicam que as(os) integrantes do movimento “estilizam” identidades subalternas descoloniais, a partir de uma criação retórica que elege a pedagogia do opressor e projeto desenvolvimentista como seu antimodelo, constituindo sentidos transgressores em torno de uma novo projeto político, educacional e econômico para os povos do campo.
RESUMONeste artigo propomos o modus operandi de uma pragmática contra-hegemônica no que tange às teorias do mainstream, ou seja, as internalistas (auto-suficiência da língua como sistema) e as externalistas (aspecto social aliado à língua e não constitutivo da língua). Para tal, constroem-se dois percursos argumentativos para dar conta de uma nova Pragmática emancipatória: (1) nova, que mostra a incompatibilidade conceitual entre a teoria austiniana e a interpretada por seu discípulo Searle; (2) emancipatória, que busca a emancipação intelectual criativa e uma partilha do sensível. Dessas duas perspectivas, contraposições teóricas são apresentadas no e do domínio da(s) pragmática(s). Palavras-chave: emancipatória; comprometimento; anti-hegemônica. ABSTRACTThis paper proposes a modus operandi for a non-hegemonic Pragmatics in relation to mainstream theories, i.e., internalist theories (self-sufficiency of language as a system) and externalist ones (social aspects as connected to language, but non-constitutive of it). Two lines of argument are proposed to cope with a New Emancipatory Pragmatics: (1) a new Pragmatics which shows the conceptual incompatibility between the Austinian theory and that interpreted by Searle and (2) an emancipatory Pragmatics in search of a creative intellectual emancipation and the distribution of the sensible. From these two perspectives, theoretical arguments are presented within and about the diverse domains of Pragmatics.O homem é uma vontade servida por uma inteligência (...) Opor-se à a esse sujeito pensante que só se conhecia como tal divorciando-se do todo sentido e de todo corpo, um novo sujeito pensante que se experimenta na ação que exerce sobre si mesmo, tanto quanto sobre os corpos (RANCIÈRE, 2007, p.83) (grifo nosso) OlhARESAo formularmos a prática de uma nova Pragmática emancipatória, direcionamos nossos olhares a um estudo da lingua(gem), levando em conta os diversos * UECe, Fortaleza (CE), Brasil.
Resumo: O presente trabalho consiste em uma reflexão sobre o conceito de diglossia, uma palavra cuja especialização semântica nos estudos linguísticos se deu por Jean Psichari, em 1885. Não obstante, veio ganhar precisão teórica apenas em 1959, com Charles Ferguson. Depois da publicação do seu artigo, o conceito teve um sucesso imediato na Sociolinguística. Este artigo segue a esteira dessas discussões, com o objetivo de repensar o sujeito falante da "variedade baixa" ou "língua dominada". Para tanto, valemo-nos da reflexão de Michel de Certeau (1994) sobre o cotidiano, especialmente das categorias de estratégia e de tática. Na primeira seção do artigo, traçamos um percurso pela história do termo diglossia, desde os seus significados nos primeiros testemunhos até a sua consolidação como conceito científico com Ferguson (1972Ferguson ( [1959) e Fishman (1967). A segunda é um encaminhamento à reflexão: expomos uma leitura crítica dos artigos mencionados e algumas críticas por parte de outros sociolinguistas. Na terceira, damos algumas informações sobre 492
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