O artigo discute relações que algumas mulheres do Campo estabelecem com as práticas de numeramento que envolvem ideias, valores, conhecimentos, procedimentos e representações de medidas. Identificamos o embate cultural entre os modos como mulheres do campo protagonizam essas práticas e os valores associados aos sistemas de medida que a escola se propõe a ensinar: a padronização das unidades e a precisão da expressão da medida. Para isso, centramos nossa reflexão na empiria de três estudos desenvolvidos por camponesas que cursavam a Licenciatura em Educação do Campo. Esses estudos também focalizaram mulheres camponesas, de diferentes comunidades do interior do estado de Minas Gerais. O primeiro trabalho acompanhou quatro trançadeiras de palha de coqueiro Indaiá que confeccionavam chapéus em Morro do Pilar; o segundo, duas produtoras durante todo o processo de produção de óleo de Pequi em Rio Pardo de Minas; e o terceiro, uma comerciante vendendo alguns produtos na Feira Livre de Itaobim. Nos três estudos, é possível perceber a mobilização de referências de sistemas e expressões de medidas desencadeadas pelo contexto cultural do Campo. Apoiada nos estudos sobre apropriação de práticas de numeramento, nossa análise aponta como as tomadas de decisão dessas mulheres atendem a necessidades pragmáticas e a valores culturais que elas atualizam quando elegem modos de lidar com as demandas da prática social. Com efeito, essa relação pragmática das práticas de medir envolvidas nessas atividades estabelece modos próprios de as mulheres camponesas significarem os conhecimentos que mobilizam, ou seja, seus modos de apropriarem-se dessa prática de numeramento.
Background: On the one hand, the history of mathematics teaching in Brazil is marked by the gradual abandonment of Geometry teaching; on the other hand, the countryside has always assumed it as an essential ally in the political and identity affirmation of its populations. Objectives: This paper discusses how Geometry and its teaching can emerge, in the paradigm of Countryside Education, as a possibility of political-epistemic disobedience to a Mathematics Education referenced in the knowledge, procedures, attitudes, and values of urban, industrial, and market forms of life. Design: The research uses qualitative methodology with a focus on Countryside Education. Setting and participants: The investigation was developed in the context of an Undergraduate Teaching Degree in Countryside Education, based on records of students' activities. Data collection and analysis: The text mobilizes formative experiences of a degree in Countryside Education with emphasis on Mathematics to reflect on how Geometry can be articulated to rural peoples' territories and territorialities, aiming to contribute to pedagogical guidelines for teaching K-12 Mathematics. Results: The paper contributes to evaluating epistemological and educational positions regarding Geometry and geometric knowledge commonly established by school cultures, not necessarily limited to schooling in rural regions. Conclusions: Geometry in school cultures can be used to understand the social reality in which subjects, communities and collectives are inserted, mapping inequality relations, and proposing ways to overcome them.
Neste texto, discutimos disposições teórico-metodológicas do Grupo de Estudos sobre Numeramento (GEN), na busca de compreender os modos como pessoas, em suas singularidades, mas como sujeitos sociais, se apropriam de práticas matemáticas, tomadas como práticas discursivas. A pesquisa, a formação docente e a atuação do GEN em contextos educativos diversos inserem-se nos campos da Educação Matemática e do Letramento, pois buscam conhecer sujeitos da Educação (crianças, adolescentes, jovens, pessoas adultas e idosas), que, vivendo em sociedades ‘grafocêntricas’ e ‘quanticratas’, movidos por intenções pragmáticas e parametrizados por referências culturais, forjam usos dos sistemas linguísticos relacionados à quantificação, mensuração, ordenação, classificação e organização de formas e espaços. A esses usos chamamos práticas de numeramento. As situações em que as identificamos – os eventos de numeramento –, em seu caráter histórico, são tomadas como unidades da análise das intenções dos usos, dos efeitos de sentido que logram produzir e, principalmente, de como sujeitos se constituem nas interações por eles mediadas, ao produzirem e tensionarem significados. Na seção ‘Compreendendo práticas matemáticas como práticas discursivas: foco, perspectiva e referenciais teórico-metodológicos do Grupo de Estudos sobre Numeramento (GEN)’: explicitamos o propósito do Programa de Pesquisa do Grupo (conhecer sujeitos e grupos sociais que protagonizam práticas de numeramento); justificamos sua base teórica (os Estudos do Letramento como Prática Social; a Pedagogia da Liberdade e da Autonomia; a compreensão da cognição como processo social; e a abordagem sociológica da Linguagem); assumimos a etnografia como lógica de investigação; e propomos a análise de interações como principal tratamento do material empírico. Apontamos também, dadas as especificidades dos sujeitos, a necessidade do diálogo com diversos campos: Educação de Pessoas Jovens, Adultas e Idosas (EJA), Sociologia da/s Infância/s; Estudos da/s Juventude/s; Educação do Campo; Educação Indígena; Educação de Pessoas Surdas; Formação Docente, entre outros. Na seção ‘Compreendendo práticas de numeramento como práticas de letramento: fertilidade analítica e pedagógica das escolhas teóricas’, esclarecemos como nossos estudos se inserem numa perspectiva Etnomatemática, porque contribuem para conhecermos os sujeitos que vemos protagonizar práticas matemáticas ao assumirem posições discursivas – portanto, sociais, culturais e políticas. Na seção ‘Compreendendo a aprendizagem matemática como apropriação de práticas de numeramento: desdobramentos da concepção de práticas matemáticas como práticas discursivas’, apresentamos como o conceito de apropriação de práticas de numeramento, de inspiração vigostskiana, usado para contemplar múltiplos sentidos das ações dos sujeitos em eventos de numeramento, disponibiliza uma ferramenta teórica para compreender a aprendizagem matemática não como experiência cognitiva individual, mas como ação social. Na seção ‘Interlocuções teóricas e disposições analíticas dos estudos mais recentes do GEN’, indicamos como uma análise tridimensional do discurso (do texto, da situação discursiva e da prática social), adotada para conhecer melhor os sujeitos e reconhecê-los como sujeitos sociais, tem-nos conduzido às considerações de Paulo Freire sobre sujeito de cultura, sujeito de conhecimento, sujeito dialógico e sujeito do processo, que compõem o sujeito histórico, protagonista de eventos de numeramento. Na ‘coda’ (‘Reiterando’), reafirmamos o foco de nossa linha de investigação no campo da Educação Matemática: pessoas constituindo-se como sujeitos sociais, enquanto se apropriam de práticas de numeramento.
Este artigo busca apresentar aspectos teóricos significativos do cálculo mental e da calculadora, bem como discorrer sobre as vantagens de se desenvolver um trabalho com essas duas competências de cálculo em sala de aula. O foco do trabalho é apresentar considerações sobre a formação de professores de Matemática a partir de duas oficinas sobre a calculadora e o cálculo mental realizadas no Laboratório de Ensino de Matemática da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. As oficinas tiveram como público-alvo estudantes do curso de Licenciatura em Educação no Campo Habilitação Matemática e objetivaram proporcionar momentos de reflexões e práticas sobre o cálculo mental e a calculadora na sala de aula, de maneira a estimular esses futuros professores a utilizarem essas duas modalidades de cálculo em suas turmas da Educação Básica. Os dados que subsidiaram a análise foram produzidos a partir de registros em áudio, registros fotográficos e questionários aplicados aos licenciandos. Após um retorno positivo dos participantes das oficinas, concluímos e salientamos a relevância dessas temáticas terem sido trabalhadas na oficina de maneira a complementar a formação inicial dos futuros professores de Matemática.
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