Divulgada, assim como muitos outros fenômenos linguísticos, sob a tradição gramatical greco-latina, a ironia, objeto de ensino e pesquisa na área de língua, tem tido sua conceituação reformulada pelos estudos do último século. Portanto, o presente trabalho se apresenta como questionamento sobre os aspectos da didatização, compreendida como o processo de constituição de um conhecimento didático com base em um conhecimento de referência de natureza distinta, da ironia diante deste novo panorama da pesquisa do fenômeno irônico e do ensino de língua materna pautado no uso. Desse modo, baseando-nos na teoria de didatização (Chevallard, 1985, apud PETITJEAN, 2008; _______, apud HALTÉ, 2008) e nas teorias sobre ironia (MUCKE, 1970; HUTCHEON, 2000; BRAIT, 2008), analisamos os conceitos de ironia presentes em dois manuais didáticos contemporâneos, bem como a sua articulação com os demais aspectos do livro. Percebemos que as inovações advindas das pesquisas científicas têm sido incorporadas ao tratamento de língua amplamente, o que tem refletido na abordagem da ironia, especificamente. Desse modo, constatamos em um dos manuais uma abordagem de ironia que a aproxima do uso, enquanto no outro observamos trabalho semelhante com outros aspectos da língua.
O presente trabalho se ancora na Linguística Textual (LT), buscando refletir sobre como a noção de contexto e suas categorias de emergência e incorporação (HANKS, 2008) contribuem para elucidar os processos de construção da coerência em interações digitais. Concebemos o texto como evento (MARCUSCHI, 2008; CAVALCANTE; CUSTÓDIO FILHO, 2010), abarcando nessa noção o fenômeno do hipertexto, como manifestação textual caracterizada por especificidades que tornam ainda mais central a noção de contexto e a construção da coerência nas interações digitais (PAVEAU, 2020; ELIAS; CAVALCANTE, 2017). Compreendemos o contexto enquanto movimentos de emergência e incorporação e a construção da coerência enquanto uma construção de sentido altamente local e contingente, o que nos permite tratar a construção da coerência de forma mais sistemática. Partindo dessas categorias e do desafio do texto nativo digital para a investigação linguística, analisamos um tuíte da página oficial do programa de televisão “Globo Rural”, observando como a incorporação de uma interação a mais de um contexto pode ser estratégica para o engajamento nas interações digitais, aspecto reforçado em interações subsequentes que enfatizaram o caráter ambivalente do tuíte entre os campos político e do agronegócio. Além disso, notamos como os comentários ao tuíte indicaram uma construção de sentido variando entre sentidos estritos, sentidos estabelecidos na relevância interpretativa ou na relevância topical. Portanto, enfatiza-se que a coerência se constrói em vários níveis, que o contexto é construído na interação e, principalmente, que coerência e contexto são altamente dinâmicos em relação às interações estabelecidas pelos participantes na prática discursiva.
O trabalho busca investigar como declarações de personalidades políticas são apropriadas de forma irônica em interações públicas na web. Baseia-se numa perspectiva sociodiscursiva de análise da interação para entender a ironia como atividade de linguagem, usada com fins avaliativos. A ironia concretiza-se através de diversas formas de construção, focalizando-se neste trabalho o recurso da menção ecoante, que consiste na referência, como um eco, ao discurso de outro. O efeito irônico resulta do proposital distanciamento entre o que é dito e o que é significado. Os achados sugerem que a estratégia da menção ecoante é um dos mais frequentes mecanismos na produção da ironia no tocante a enunciados políticos na web.
RESUMO Neste artigo, partindo de discussões da ironia como estratégia discursiva, propomo-nos a analisar se, e como, a ironia serve de zona de diálogo e de tensão entre diferentes vozes/dizeres, evidenciando-se como um discurso de resistência da mulher. Para tanto, partimos do entendimento de linguagem do chamado Círculo de Bakhtin e das discussões sobre ironia como estratégia discursiva, além de considerações sobre a chamada cultura do estupro e os mitos a ela relacionados. Tomamos como corpus comentários de mulheres nos quais a ironia se faz presente, surgidos a partir de postagem anônima no Facebook, em páginas do tipo spotted1. A partir da análise dos dados, foi possível perceber que, por meio da apropriação dos discursos-mitos relacionados à cultura do estupro, as mulheres instauraram em seus enunciados zonas de tensão entre dizeres, caracterizando a ironia como discurso de resistência da mulher contra discursos machistas.
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