Resumo A violência é um fenômeno sociocultural que viola direitos e acentua desigualdades sociais. Suas implicações são perceptíveis na vida cotidiana e na saúde da população. Sob o referencial teórico da interseccionalidade e da psicologia sócio-histórica, este artigo discute formas de violência produzidas na intersecção de gênero, raça e classe em uma comunidade periférica e em situação de alta vulnerabilidade localizada na cidade de Cubatão/SP, a partir do relato de quatro lideranças comunitárias. Os dados foram obtidos por meio de três pesquisas realizadas anteriormente e concomitantemente ao contexto da pandemia da covid-19, de junho de 2017 a novembro de 2020, extraídos mediante entrevistas e diários de campo para, depois, serem analisados segundo a Hermenêutica de Profundidade. Os resultados apontam para violências estruturais articuladas a raça, classe e gênero, expressas na inacessibilidade a condições dignas de moradia, alimentação e renda básica. A violência contra mulheres, destacada como resultado, aparece intermediada pelo Estado ou pelo tráfico organizado. Os dados sugerem que as violências são agravadas pela ineficiência da operacionalização das políticas públicas, no que tange à promoção do cuidado à população majoritariamente negra e pobre, indicando que a interseccionalidade é uma ferramenta essencial para a análise e o enfrentamento das desigualdades sociais.
Resumo:A história das técnicas reprodutivas evidencia o que Foucault chamou de fazer viver e deixar morrer como uma estratégia das práticas políticas modernas. A biotecnologia em funcionamento no campo da reprodução humana disponibilizou técnicas centradas na fabricação, controle e manutenção da vida. Este artigo defenderá que as tecnologias reprodutivas não foram desenvolvidas para resolver questões de infertilidade, como anunciavam, mas para controlar os processos reprodutivos do corpo da mulher e, com isso, chegar a controlar aspectos populacionais variados. O artigo divide-se em seis partes. A primeira apresentará a noção foucaultiano de biopolítica, apontando para a centralidade da reprodução humana nesse tipo de política. A segunda parte apresentará o caminho histórico percorrido pelas pesquisas no campo da reprodução humana e a ênfase dada ao corpo de mulheres como campo de experimentação. A manipulação das vidas das mulheres com fins biopolíticos (reprodutivos) será abordada em seguida, ilustrada pelas políticas nacionais de natalidade de períodos pós-guerra. Na quarta parte do artigo, o tema da inseminação artificial será apresentado como um projeto que teve dificuldades de implementação por conta do potencial imaginativo (e prático) para mulheres interessadas em constituir família sem a presença de um homem. A fertilização in vitro será apresentada, em seguida, como elucidativa da visão objetificante dos cientistas em relação às mulheres e de um projeto de controle da reprodução feminina. Por fim, questionar-se-á as intenções das pesquisas reprodutivas feitas em nome do tratamento da infertilidade, relacionandoas com as variadas causas de infertilidade e os interesses do mercado. Palavras-chave: tecnologias reprodutivas; biopolítica; questões de gênero Abstract: This article will argue that reproductive technologies were not developed to address infertility issues as they advertised, but to control the reproductive processes of woman's body and thereby control a variety of population aspects. The article is divided into six parts. The first one will present the Foucaultian notion of biopolitics, pointing to the centrality of human reproduction in it. The second part will present the historical path covered by research in the field of human reproduction and the emphasis given to the body of women as a field of experimentation. The manipulation of women's lives for biopolitical (reproductive) purposes will be then illustrated by national birth rate policies of a post-war periods. In the fourth part of the article, the topic of artificial insemination will be presented as a a project that had difficulty implementing it because of its imaginative (and practical) potential for women interested in forming a family without a man. In vitro fertilization will be presented, then, as an elucidative of the objectifying vision and practice of scientists in relation to women and of a project to control female reproduction. Finally, we will question the intentions of the reproductive research done in the name of the t...
Neste artigo procuramos argumentar a favor da legitimidade de uma Filosofia Feminista e contribuir para a sua solidificação no Brasil. Para tanto, discutiremos o suposto paradoxo da aproximação entre o pensamento feminista, de caráter mais concreto e atento às contingências e às vidas das mulheres, e a Filosofia, que preza a abstração e os universalismos, ao mesmo tempo que possui uma produção teórica androcêntrica e uma história de apagamento das mulheres. Em seguida, trataremos de algumas críticas endereçadas à Filosofia Feminista, efetuadas com o intuito de rejeitá-la como um campo de pesquisa e reflexão realmente filosófico – a saber, as de que atua de maneira ideológica e parcial, criando um gueto; de que é por demais interdisciplinar ou sociológica; e que não configuraria um campo próprio de pesquisa, uma vez que suas questões já estariam incluídas em alguma das subáreas da Filosofia. Nas duas últimas sessões refletiremos sobre uma Filosofia Feminista no Brasil (e brasileira), suas características e estratégias de enfrentamento do preconceito contra as mulheres e o feminismo na Filosofia, destacando a possibilidade de expansão da própria ideia do que significa filosofar.
A <strong>Revista PRACS </strong>recebeu, durante o ano de 2018, uma série de trabalhos acadêmicos para compor o seu <strong>Dossiê Biopoder: reflexões interdisciplinares sobre o controle</strong>. Para completar o material deste dossiê, convidamos uma pesquisadora e um pesquisador brasileiros, especialistas em Foucault e lecionando em pontos distintos do país, para responderem algumas questões relacionadas aos temas que permearam os artigos recebidos. A Dra. Caroline de Souza Noto, professora do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina e o Dr. Ernani Pinheiro Chaves é professor titular da Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Pará. Ambos receberam cinco questões por e-mail formuladas por Débora Aymoré e Ilze Zirbel, antecedidas por um pequeno texto de introdução ao tema geral do dossiê. Dispuseram-se, então, a refletir sobre elas e respondê-las. Em seguida, as suas respostas foram organizadas de maneira conjunta pelas entrevistadoras para essa publicação.
Resumo: O objetivo deste texto é problematizar o cuidado de pessoas com deficiência que experienciam a dependência complexa e defendê-lo como uma questão de justiça. Para tanto, estabelecemos um diálogo entre os estudos da deficiência e uma ética político-feminista do cuidado. Na primeira seção, apresentamos o cuidado a partir da perspectiva político-feminista. Em seguida, apontamos como o capacitismo e o familismo, em consonância com as políticas neoliberais, obstaculizam o acesso ao cuidado, algo acentuado em épocas de emergência no campo da saúde, como durante a pandemia de Covid-19. Por fim, com base no entendimento de que o cuidado público é uma questão de justiça para pessoas com deficiência, apresentamos alguns pressupostos ético-políticos que contribuem para qualificar o debate sobre o tema e fomentar a construção de políticas sociais emancipatórias.
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