As vivências interseccionais da violência em um território vulnerável e periférico

Abstract

Resumo A violência é um fenômeno sociocultural que viola direitos e acentua desigualdades sociais. Suas implicações são perceptíveis na vida cotidiana e na saúde da população. Sob o referencial teórico da interseccionalidade e da psicologia sócio-histórica, este artigo discute formas de violência produzidas na intersecção de gênero, raça e classe em uma comunidade periférica e em situação de alta vulnerabilidade localizada na cidade de Cubatão/SP, a partir do relato de quatro lideranças comunitárias. Os dados foram obtidos por meio de três pesquisas realizadas anteriormente e concomitantemente ao contexto da pandemia da covid-19, de junho de 2017 a novembro de 2020, extraídos mediante entrevistas e diários de campo para, depois, serem analisados segundo a Hermenêutica de Profundidade. Os resultados apontam para violências estruturais articuladas a raça, classe e gênero, expressas na inacessibilidade a condições dignas de moradia, alimentação e renda básica. A violência contra mulheres, destacada como resultado, aparece intermediada pelo Estado ou pelo tráfico organizado. Os dados sugerem que as violências são agravadas pela ineficiência da operacionalização das políticas públicas, no que tange à promoção do cuidado à população majoritariamente negra e pobre, indicando que a interseccionalidade é uma ferramenta essencial para a análise e o enfrentamento das desigualdades sociais.

Intimate Partner Violence and Women’s Mental Health during the COVID-19 Pandemic in Brazil

“…Although violence is a universal phenomenon, it produces its worst effects in the historically excluded and vulnerable population sectors, such as the black, women, and LGBTQIA+ groups. The most severe gender-based violence affects hitting black and poor women [70]. These effects are manifested in areas as justice, quality health services, psychotherapy and other network devices [71].…”

A mulher em vulnerabilidade social e a relação com a violência familiar

“…Ou seja, a posição da mulher enquanto membro da família demonstra, desde o princípio, a discriminação de gênero existente. Desta forma, salienta-se que cabe a elas a responsabilidade pela educação dos filhos e pelo trabalho doméstico, sendo assim, essa dupla, ou tripla, jornada de trabalho gera sobrecargas e acúmulos de deveres e atribuições (Corrêa et al, 2021).…”

Pandemia da covid-19 e o aumento da violência doméstica em território vulnerável: uma resposta de base comunitária

“…[…] nada aconteceu, mesmo através de Essa ineficiência por parte da justiça, na garantia de direitos e na segurança das vítimas, faz com que elas procurem outras alternativas, recorrendo a espaços de acolhimento, como igrejas, projetos e atividades comunitárias (Correa et al, 2021). Muitas vezes, as mulheres acabam levando suas denúncias para os traficantes da região, o que oferece medidas mais efetivas e imediatas.…”