Este artigo explora as relações entre cultura visual, gênero e violência, com foco nas visualidades e em seus papéis pedagógicos. Considerando o protagonismo exercido pelos homens na prática de violências gendradas, são apresentadas algumas reflexões teóricas sobre os modos pelos quais a construção social do visual está implicada no problema, a partir de uma abordagem dos estudos da cultura visual e dos estudos de gênero. Para corroborar com as reflexões, descrevemos uma proposta pedagógica desenvolvida com duas turmas de estudantes universitários de artes visuais no segundo semestre de 2021, nas quais as pessoas participantes foram convidadas a pensar sobre a construção das aprendizagens de gênero e as violências que permeiam esse processo, tendo como dispositivo condutor das discussões a elaboração de constelações visuais. Essa estratégia metodológica foi inspirada nos estudos de Aby Warburg (2000/2010) e de Georges Didi-Huberman (2002/2013, 2011/2018) e buscou explorar o potencial inerente ao ato de confrontar imagens. A expectativa desta atividade pedagógica foi de promover deslocamentos do olhar e reposicionamentos a respeito da naturalização da ordem de gênero e das práticas violentas que ela sustenta. Durante a construção dos painéis visuais e das discussões que moveram os encontros, percebemos que os homens têm certa dificuldade em compreender ou expressar de que modo estão envolvidos no problema, enquanto as mulheres relataram experiências próximas com situações de violência. Entretanto, ainda que as condutas e a cumplicidade masculinas não tenham sido problematizadas de forma expressiva pelos homens, eles aproveitaram o espaço para relatar como a socialização masculina é marcada por violências praticadas em nome do gênero. Concluímos que o papel desempenhado pelas visualidades na reprodução ou subversão de normas e padrões pode contribuir para problematizar as redes de sentido estabelecidas socialmente em torno do gênero.
As mulheres são vitimadas por inúmeras discriminações e violências em nossa sociedade. Desse modo, é imprescindível a construção de estratégias de sensibilização da sociedade a respeito desses problemas, as quais podem contribuir para a transformação de mentalidade necessária ao efetivo enfrentamento deles. A partir da problematização da arte e de sua história, delineamos e executamos ações educativas com os objetivos de estimular uma postura reflexiva e crítica acerca das relações de gênero e incentivar o repúdio e o combate às discriminações e violências contra mulheres. Essas ações foram concebidas de modo a elucidar, a partir da discussão sobre obras, artistas e o sistema da arte de modo geral, que preconceitos, assimetrias e violências de gênero foram tanto banalizadas e reforçadas quanto expostas e combatidas por meio da arte no curso da história. Os relatos de participantes dessas ações evidenciam que as problematizações propostas despertaram novos modos de ver, fomentando importantes reflexões e discussões a respeito das estereotipações, exclusões e violências sofridas por mulheres, dentro e fora do campo da arte.
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