RESUMOEste trabalho acompanha a produção e a circulação transatlântica de uma das muitas imagens do Haiti: o Haiti popular, paisagem estético-antropológica amplamente proliferada na metade do século XX. Com a ajuda de uma série de fontes documentais e tendo o antropólogo franco-suíço Alfred Métraux como um dos principais guias, a pesquisa explora a construção de três experiências institucionais no país nos anos 1940: o museu do Bureau d'Ethnologie, fundado em 1941, a biblioteca/museu do projeto Unesco em Marbial, concebida em 1948, e o Centre d'Art, inaugurado em 1944. Embora distintos, esses experimentos, que agregam os campos da museologia, da educação e daprodução científica, compartilham não só um propósito semelhanteo de fornecer ao Haiti uma cultura tradutível em objetos, formas e imagens -, mas também uma mesma rede de circulação de pessoas: intelectuais, artistas, políticos e gestores haitianos e estrangeiros encarregados de sua produção. A análise proposta segue, com base em um exercício de imaginação etnográfica com os documentos, o trânsito de pessoas, coisas e ideias presentes na formação de tais instituições, desvendando o sentido do Haiti popular que passa a ser pendurado em paredes, apoiado em estantes e exibido em exposições. ABSTRACT This work follows the production and the transatlantic circulation of one of the many images of Haiti: the popular Haiti, an aesthetic-anthropological landscape widely proliferated in the middle of the XX century. Through a series of documentary sources and having the Franco-Swiss anthropologist Alfred Métraux (1902-1963) as main guide, the research explores the creation of three institutional experiences in the country in the 1940s: the Bureau d'Ethnologie (1941), the Unesco museum / library in Marbial (1948) and the Centre d'Art (1944). Despite its different natures, these experiments, which combine the fields of museology, education and scientific production, share not only a similar purpose -to provide Haiti a culture translateable into objects and images -, but also the same network of people in charge of its production: haitian and foreign intellectuals, artists, politicians and bureaucrats. The research is therefore an exercise of ethnographic imagination with the documents that follows the flow of people, things and ideas present in the emergence of these institutions, unraveling the meanings of the popular Haiti that was in this period displayed on walls, shelves and exhibitions.A pesquisa que deu origem a esta tese de doutorado só pôde ser realizada graças aos auxílios que recebi do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), entre 2014 e 2015, e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), entre 2015 e 2019. A última instituição também proporcionou os subsídios para minha estadia na França entre 2016 e 2017, por meio de uma Bolsa de Estágio de Pesquisa no Exterior (BEPE). A essas instituições e a seus funcionários, responsáveis pelos trâmites necessários ao andamento de minha pesquisa, agradeço-lhes imensa...
Georges Bataille (1897Bataille ( -1962 e Michel Leiris (1901Leiris ( -1990 se conheceram no ano de 1924 em Paris. A esta altura Bataille, que havia se formado na conceituada École des Chartes, era funcionário da Biblioteca Nacional e Leiris, que tinha uma breve formação em química e começava a estudar poesia, frequentava os agitados cír-culos artísticos que desembocariam no movimento surrealista 1 . Apresentados por um amigo comum, eles se tornariam a partir daí grandes amigos e parceiros intelectuais, fato demonstrado por sua volumosa correspondência 2 . Pouco recuperados pelo campo das ciências sociais no Brasil, com raras exceções, esses franceses, de difícil classificação em apenas uma área do conhecimento, foram revisitados com mais frequência pela filosofia e pelas letras em geral 3 . Apesar de terem atuado profissionalmente em áreas distintas -Bataille foi funcionário da Biblioteca Nacional durante quase toda a vida e Leiris foi antropólogo do Musée de L'Homme a partir dos anos 1930 -pode-se dizer que ambos foram escritores e pensadores sociais de destaque. Além das obras literárias que escreveram, suas reflexões em torno da vida social são documentos importantes da temperatura de uma época e dialogam com boa parte da teoria antropológica precedente. Trata-se neste artigo de um esforço de reinserção: ler Bataille e Leiris do ponto de vista da antropologia, tentando trazê-los para os debates da disciplina.
O texto aborda, algumas obras do haitiano Frantz Jacques, mais conhecido como Guyodo (1973-), e do mineiro Farnese de Andrade (1926-1996), que são trazidas à baila em função do modo como fazem uso dos altares e objetos vodu (Guyodo) e dos arranjos devocionais católicos (os objetos-oratórios de Farnese), o que deixa ver a maneira como composições e motivos retirados das práticas religiosas cotidianas reaparecem, transformados, nas criações artísticas. O texto problematiza os novos sentidos e práticas que cercam os objetos quando deslocados dos espaços rituais e domésticos para os espaços de exposição.
O tema do sagrado é central na antropologia desde a sua origem. Esta pesquisa propõe o enfrentamento da noção através das lentes de Georges Bataille (1897-1962) e Michel Leiris (1901-1990) na França dos anos 1930, tendo em vista o cruzamento de suas experiências intelectuais e de suas formulações teóricas. Toma-se como ponto de partida para a análise a 'sociologia sagrada' por eles anunciada no Collège de Sociologie (1937-1939), que reclama o sagrado em dupla articulação: ao mesmo tempo que conceito explicativo ele funciona também como uma prática, uma maneira de ver e também de agir sobre o mundo. Em meio aos debates da época empreendidos pela intelectualidade e os movimentos de vanguarda sobre as possíveis formas da ação política, tendo em vista sua ligação com a arte, o sagrado aparece nos trabalhos de Bataille e Leiris como uma alternativa surpreendente. O intuito é rever uma tradição de debates em torno do conceito a partir das formulaçõesradicais e originaisdestes autores, indicando como se relacionam, cada qual à sua maneira, com a teoria social precedente.
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