Este estudo tem como objeto de investigação as ocorrências de reparo em uma conversa que envolve pessoas com afasia. Buscando subsídios nos fundamentos teórico-metodológicos da Análise da Conversa de base Etnometodológica, busquei verificar se a organização da trajetória do reparo se apresentaria conforme as descrições de Sacks, Schegloff & Jefferson (1977) a respeito desse fenômeno e as descobertas de Garcez e Loder (2005). As análises revelaram algumas ocorrências não previstas. Todavia, considero que tais ocorrências estão relacionadas às peculiaridades de conversas que envolvem pessoas com afasia.
O objetivo deste trabalho é verificar se a organização da preferência nas conversas, focalizando a preferência por discordância em casos de auto-depreciação, apresentaria-se conforme a descrição de Pomerantz publicada em 1984 sob o título "Concordando e discordando de avaliações: algumas características dos formatos de turno preferidos/despreferidos". Com tal intuito, foram analisadas conversas gravadas em audio e video, envolvendo pessoas com afasia, segundo a perspectiva da Análise da Conversa Etnometodológica. As análises realizadas neste estudo corroboram a tese de Pomerantz sobre a preferência por discordância em casos de auto-depreciação, chamando a atenção para o fato de que a proposta de organização da preferência da autora também procede em conversas que envolvem pessoas com afasia.
ResumoO estudo aqui apresentado é informado teórica e metodologicamente pelo arcabouço da Sociolinguística Interacional e tem como objetivo investigar a participação da interlocutora-terapeuta na construção da história de AVE de um paciente afásico por meio de um olhar para as ações da interlocutora que penetram o turno a turno da narração. Os dados analisados foram gerados em vídeo, através do método de entrevista em profundidade, e transcritos de acordo com convenções dos analistas da conversa com algumas adaptações de autoras da área da interação. As análises qualitativas de cunho interpretativista nos permitiram observar que as ações da terapeuta contribuíram para o desenho/formatação da narrativa, para sustentação dos footings operantes na interação em curso e para a manutenção da intersubjetividade. Tais ações se configuraram como cooperativas e motivadoras, além de terem possibilitado o engajamento ativo do paciente na narração. Palavras
Objetivo : investigar o uso do discurso reportado direto por uma pessoa com afasia ao construir uma narrativa sobre acidente vascular cerebral (AVC).Métodos : assumindo uma perspectiva qualitativa de análise, que se fundamenta em abordagens interacionais em linguística, e utilizando o método de geração de dados denominado grupo focal, busca-se compreender a estruturação da narrativa da participante deste estudo, que consiste em uma pessoa que apresenta afasia, construída ao longo da conversa que emergiu em uma interação face a face em grupo gravada em vídeo e transcrita para investigação.Resultados : a análise dos dados revelou que i) o fato de a narradora apresentar afasia não a impossibilitou de construir uma narrativa que apresentasse todos os elementos estruturais de narrativas canônicas, e ii) o uso do discurso reportado direto, mesmo funcionando como uma estratégia para lidar com o déficit linguístico, garantindo a inteligibilidade da narrativa, criou esperados efeitos na narração (envolvimento, validação, autenticação, entre outros). Além disso, tal análise nos permite advogar que pessoas com afasia, não obstante o comprometimento linguístico que apresentam, podem se valer de estratégias adaptativas para construir narrativas de modo habilidoso, cumprindo com as funções referencial e avaliativa das narrativas.Conclusões : este estudo propicia uma interface entre as ciências da saúde e as ciências humanas, mais especificamente entre a Fonoaudiologia e a Linguística. Os resultados das investigações são considerados inovadores e relevantes, uma vez que convida o leitor a repensar a tese de que pessoas com afasia são incompetentes em suas práticas com (e através de) a linguagem.
RESUMO -Este artigo investiga aspectos da dinâmica interacional da narração de histórias por pessoas com afasia em uma interação face a face, com o objetivo de compreender como tais pessoas se instauram como narradores. A análise conjuga perspectivas estruturais e interacionais do estudo da narrativa a uma abordagem sociointeracional da dinâmica dos enquadres e footings. As narrativas em análise ocorreram em uma interação gerada por meio do método de grupo focal, do qual participaram duas mulheres com afasia e uma das pesquisadoras. A transcrição foi feita de acordo com convenções adaptadas e simplifi cadas da Análise da Conversa. Por meio da análise de mudanças contínuas de enquadres e da negociação de footings, pôde-se observar como as participantes com afasia se inserem nessa dinâmica e de que recursos lançam mão para se posicionarem como narradoras. Observamos que elas marcam coerência tópica entre a fala em curso e a história através de glosas e retomadas de falas anteriores, assim como de concordâncias com avaliações anteriormente emitidas. As fi nalizações das narrativas são feitas através de codas avaliativas e retomadas do tópico em curso na interação. As falas da pesquisadora se caracterizam pela enunciação de avaliações positivas, pedidos de esclarecimentos e checagem de interpretações de falas anteriores. Com a apresentação desses procedimentos, pretendemos mostrar como as narradoras com afasia expõem a relevância de suas histórias e como, no curso dessas ações, se instauram como narradoras. Palavras-chave: narrativa, interação face a face, afasia.ABSTRACT -This article examines aspects of interactional storytelling by persons with aphasia in a face-to-face interaction, focusing on how they construct themselves as narrators. The analysis brings structural and interactional perspectives of narrative analysis together with a sociointeractional approach to frames and footings. The narratives under analysis were produced during a focus group discussion, in which two women with aphasia and one of the researchers participated. The transcription was done using a simplifi ed version of CA conventions. Through the analysis of frame shifting and footings, we observed how participants with aphasia project themselves as narrators. We observed that they introduce stories marking topic coherence between conversation and narrative, as well as through glosses, repetitions of previous talk, and agreements with prior evaluations. The closing of the stories and the shift back to a conversational frame were made through evaluative codas and resuming previous topics. The researcher's speech was marked by the presence of positive evaluations, demands for clarifi cation, and verifi cation of interpretations. In presenting these procedures, we intend to show how narrators with aphasia display the relevance of their stories to the local context and how, in doing so, they construct themselves as narrators.
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