Resumo O objetivo deste artigo é analisar narrativas sobre as experiências de abortar disponíveis em uma comunidade online, buscando discutir os métodos e estratégias aos quais as mulheres recorrem frente à impossibilidade legal de interrupção voluntária de gravidez e os efeitos da criminalização do aborto induzido. Como método, utilizou-se a etnografia virtual, com observação da plataforma Women on Web, coleta e análise de 18 narrativas, disponíveis publicamente e sem restrições, selecionadas entre novembro de 2016 e janeiro de 2017. As narrativas informam métodos mesclados para a realização de aborto, com prevalência de utilização do medicamento Cytotec. Em alguns casos, hospitais e consultórios médicos são incluídos nos itinerários, seja para realização de exames ou para atendimento de intercorrências. A internet se revela uma ferramenta de informação, negociação e mesmo aquisição de medicamento abortivo bastante comum, além de uma plataforma de troca de experiências. Conclui-se que as narrativas sinalizam as inseguranças, riscos e violências às quais estão submetidas as mulheres no contexto da clandestinidade, indicam a importância do debate sobre a descriminalização do aborto no Brasil, e também reforçam a existência de uma cultura compartilhada do aborto, já apontada em estudos anteriores.
ResumoAs mulheres rurais estão organizadas desde a década de 1980 na luta pelo reconhecimento e valorização do seu trabalho. No entanto, mesmo com a garantia de alguns direitos, participação e da luta pela identidade de trabalhadora rural, as mulheres esbarram frequentemente com o julgamento alheio que tem como base os padrões de gênero. O presente artigo tem como objetivo expor as percepções de mulheres rurais -lideranças políticas, em relação aos julgamentos de familiares e demais membros da comunidade sobre o seu modo de vida, pois, tais mulheres possuem um modo de vida que se organiza em torno das responsabilidades domésticas e familiares, produção agrícola e participação política -que exige constante mobilidade para além da comunidade rural. Além disso, ressaltamos as mudanças ocorridas nas vidas das mulheres provenientes das oportunidades adquiridas a partir da participação política e da participação em grupos de mulheres. Para a realização da pesquisa, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com dez mulheres rurais de dois municípios do sertão pernambucano. Contudo, percebeu-se que a participação política se estabelece para além da esfera pública, impactando a vida privada das mulheres, proporcionando meios de quebrar as barreiras da invisibilidade, da subalternidade e da inferioridade proporcionadas pela dominação masculina. A participação política na vida das mulheres rurais se materializa como um caminho que aponta para o questionamento das relações de gênero, alterando o cotidiano familiar e os valores comunitários vigentes do meio rural.Palavras-Chave: Mulheres rurais, participação política, empoderamento, esfera pública e privada. 267Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 8 (2): 264 -282, 2016 "Eu escuto o lado bom!" I LISTEN TO THE GOOD SIDE!" A STUDY ON RURAL WOMEN FROM THE COUNTRYSIDE OF PERNAMBUCO WHO FACE JUDGMENTS AND AMPLIFY DESIRES FROM POLITICAL PAR-TICIPATION AbstractRural women have been organized since the 1980s in the struggle for recognition and appreciation of their work. However, even with the guarantee of some rights, participation and the strive for the identity of a rural worker, women often face the judgment of others based on gender patterns. This article aims to expose the perceptions of rural womenpolitical leaders, regarding the judgments of family members and other members of the community about their way of life, since such women have a way of life that is organized around the domestic and family responsibilities, agricultural production and political participation -which requires constant mobility beyond the rural community. In addition, we highlight the changes in the lives of women from opportunities gained through political participation and participation in women's groups. To carry out the research, semi-structured interviews were conducted with ten rural women from two municipalities in the countryside of Pernambuco. However, it has been realized that political participation is established beyond the public sphere, impacting women's private lives, providing a means of...
Pesquisas que retratam mulheres rurais que fogem das expectativas sociais; que questionam a reprodução das relações de gênero no campo e, renegam a vida de submissão que mulheres de gerações anteriores tiveram em função do casamento, ainda são incipientes na literatura das Ciências Sociais. Neste sentido, o presente artigo teve como objetivo investigar histórias de vida de mulheres rurais, analisando-as à luz das categorias sociológicas desvio e estigma, evidenciando diferentes formas de (r)ex(s)istência dessas mulheres aos valores patriarcais. Foram entrevistadas dez mulheres rurais solteiras, com mais de 40 anos, provenientes de quatro estados da região Nordeste. Identificamos o recorrente uso de termos pejorativos para denominar as mulheres solteiras e percebemos que, apesar de o caráter conservador ainda se fazer presente no meio rural, as mulheres entrevistadas ressignificam a sua condição, exaltam a sua liberdade e demonstram satisfação por não terem constituído uma família que atende ao modelo hegemônico.
O presente dossiê temático é resultado de trocas e diálogos acadêmicos e afetivos estabelecidos em diferentes momentos entre nós, que vivemos em quatro contextos interioranos desse país de dimensões continentais. Como docentes de Universidades Federais localizadas nas regiões Nordeste (UFPI, UFRPE), Centro Oeste (UFGD) e Sul (UFPel), portanto, fora dos eixos metropolitanos das capitais, inquietamo-nos com as condições de invisibilidade de trabalhos, investigações e reflexões produzidas e conduzidas por inúmeros pesquisadores e pesquisadoras das mais diversas Instituições de Ensino Superior no interior desse Brasil profundo. Embora essa constatação não se refira a todos os campos de pesquisa, tal invisibilidade é patente quando se trata das discussões acadêmicas em torno das temáticas de gênero e sexualidades. Nesse sentido, este dossiê reuniu estudos e pesquisas sobre sexualidades dissidentes e as múltiplas expressões de gênero em contextos pouco visibilizados, tais como: cidades de pequeno e médio porte e/ou contextos rurais. O intuito foi discutir e refletir sobre as variadas formas de viver as identidades de gênero, práticas sexuais dissidentes, negociações e formas de resistência em contextos fora dos grandes centros urbanos.
DOI 10.33052/2525-7668As duas faces do dossiê deste número da Revista Interritórios, feminismos e educação, aproximam-se não só como movimentos transformadores, mas também como elaborações teórico-críticas que permeiam fortemente o imaginário social. Por um lado, os processos educativos compreendidos na chave da redenção, da possibilidade de diminuir as abismais desigualdades sociais do país, podem também ser perpassados por uma perspectiva sexista, reproduzindo estruturas sociais de dominação masculina, com reforço às práticas da cultura patriarcal. Na contramão, tanto os movimentos sociais feministas quanto as epistemologias feministas denunciam essas dinâmicas e propõem elaborações para que estes mesmos processos educativos agentes das desigualdades de gênero, possam ser articulados, em sua perspectiva formal e não formal, para a desconstrução das estruturas patriarcais que atingem mulheres (e homens) em toda a sua diversidade. Desse encontro entre luta política, produção acadêmica e pedagogias diversas, surgem as contribuições deste dossiê. Feminism and educationThe two faces of this issue of Revista Interritórios, feminismos y educación, approach not only as transformative movements, but also as theoretical-critical elaborations that permeate the social imaginary. On the one hand, the educational processes included in the key to redemption, the possibility of reducing the country's abysmal social inequalities, can also be crossed by a sexist perspective, reproducing social structures of male domination, reinforcing the practices of patriarchal culture. On the contrary, both feminist social movements and feminist epistemologies denounce these dynamics and propose elaborations so that these same educational processes, agents of gender inequalities, can be articulated, in their formal and non-formal perspective, to the deconstruction of the patriarchal structures that reach women (and men) in all their diversity. From this encounter between political struggle, academic production and various pedagogies, the contributions of this dossier arise.
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