Resumo: Determinados artefatos depositados em museus são conhecidos como objetos etnográficos. Representam importantes fontes de consulta para um amplo leque de estudos interpretativos na área das ciências humanas: cultura material, tecnologias tradicionais, antropologia da arte, etno-história e história da arte, processos migratórios, trocas e apropriações culturais como resultado das situações de contato. Cabe, então, perguntar por que as reservas técnicas dos museus etnográficos não estão abarrotadas de pesquisadores debruçados sobre tais fontes de informação? A irredutibilidade mesma do objeto etnográfico pode constituir um empecilho, mas o que mais pode ser dito? O artigo pretende enfocar o objeto etnográfico e o estudo de coleções etnográficas, nem tanto formulando novos conceitos, mas transladando sentidos e interpretações que contribuem para a redefinição dessa classe de objetos. A partir dessa discussão e com objetivos exploratórios, são abordadas as potencialidades do estudo de coleções etnográficas no contexto das redes de troca ameríndias. Palavras-chave: Povos indígenas. Colecionamento. Coleções. Objeto etnográfico. Redes de troca.Abstract: Certain artifacts placed in museums are known as ethnographic objects. They represent important sources of advice to a wide range of interpretive studies in the field of human sciences: material culture, traditional technologies, anthropology, art, art history and ethnohistory, migratory processes, cultural exchanges, and appropriations as a result of contact situations. It should then ask why the technical reserves of ethnographic museums are not crowded with researchers poring over such sources of information? The irreducibility of the same ethnographic objects can be an impediment, but what else can be said? The article intends to focus the ethnographic object and the study of ethnographic collections, not properly formulating new concepts, but transposing the meanings and interactions that contributed to the redefinition of this class of objects. From this discussion, areas for explorations are addressed to study the potential of ethnographic collections in the context of Amerindian exchange networks.
O que há em comum entre um cavalo de pau e uma serpente de fibras? 1 Segundo o historiador de arte Ernst Gombrich (1999), o cavalinho de pau é bastante trivial e geralmente se contenta em ocupar seu lugar no canto do quarto de uma criança sem nutrir ambições estéticas. Detesta afetações e assim se mostra satisfeito com seu corpo de madeira e sua cabeça talhada toscamente. A serpente de fibra é igualmente corriqueira, podendo ser encontrada em todas as cozinhas dos índios Wayana, quer seja tencionada entre dois travessões ou suspensa a um canto, fazendo crer que dormita. Tecida a partir de talas de arumã com casca, apresenta um lustroso e avermelhado corpo cilíndrico. Pretensiosa, aspira a píncaros estéticos, objetivo que alcança plenamente. Nas lides cotidianas, este utensílio presta-se a uma única função: espremer a massa de mandioca ralada, para o que foi justamente confeccionado. Na perspectiva indígena, estes dois atributos, especificidade de uso e propriedade funcional, sobretudo quando conjugados, constituem a condição máxima de valorização e beleza de um artefato.Como podem ser descritos? Seria tão somente a "imagem" de um cavalo e a de uma serpente? Gombrich, no mesmo artigo, assinala que o brinquedo não apresenta a forma exterior de um cavalo, assim como, sob certo aspecto, o tipiti 2 não corresponde fielmente à figura de uma determinada serpente, pois lhe faltam as extremidades, a cabeça e a cauda. O historiador austríaco propõe que uma outra palavra talvez se revele mais apropriada para a questão. Trata-se de representação, a qual evocaria uma qualidade, a substituição. Em outros termos, tratar-se-iam de imagens que representam porque substituem. O cavalinho de pau logra ser um substituto para o cavalo porque ocupa o seu lugar, o que é passível de ser cavalgado torna-se de alguma forma um cavalo. Da mesma maneira, o tipiti constitui uma serpente porque o que é constringente reproduz o comportamento das serpentes constritoras, 3 tornando-se uma delas. Cavalo e serpente possuem, nesse sentido -e como enfatiza o citado historiadoraquela exigência mínima para o desempenho da função representacional.
Resumo: Os pequenos agricultores do vale do alto rio Juruá, no Acre, produzem farinha de mandioca para consumo e comércio.Este artigo descreve as práticas que produzem e identificam uma farinha 'especial' do ponto de vista dos produtores locais. Esses processos são tanto técnicos como conceituais e se aplicam às raízes de mandioca, aos objetos responsáveis pelo processamento e à farinha produzida, diferindo da avaliação de negociantes e órgãos governamentais. Esse conjunto prescritivo será confrontado com a percepção dos comerciantes e também com a dos serviços públicos, a qual atua no melhoramento dessa produção por considerá-la desvalorizada e com elevada variabilidade.Palavras-chave: Amazônia. Rio Juruá. Políticas públicas. Farinha de mandioca. Patrimônio material. Abstract:Smallholders from upper Juruá river valley, state of Acre, in Brazil, produce cassava flour (farinha de mandioca) for consumption and trade. This article describes the practices that produce and identify a 'special' cassava flour from the point of view of the local producers. These processes are both technical and conceptual, and they apply to the cassava roots, the objects associated to its processing and the cassava flour produced, differing from the assessment of traders and governmental institutions. This prescriptive set will be faced with the perception of traders and also with the public service, which operates in this production improvement considering it undervalued and with high variability.
Resumo O presente artigo enfoca aspectos ligados ao patrimônio cultural indígena depositado em museus e as coleções etnográficas. Ressalta as articulações, cada vez mais intensas, entre as noções de bens, de direitos, de identidades, de pertencimentos, que influenciam as políticas da diferença e do reconhecimento demandadas pelos povos indígenas e nas quais o patrimônio musealizado tem um importante papel a cumprir. O artigo destaca, ainda, aspectos e possíveis caminhos sobre os processos e as perspectivas de documentação e de acesso a esses acervos, os quais permanecem essenciais para a renovação de práticas interativas em museus. Finalmente, discorre sobre o programa Museus da Amazônia em Rede (MAR), que congrega quatro museus da Amazônia Oriental e que visa, essencialmente, à disponibilização de seus acervos e aos efeitos positivos que essa atividade pode gerar no sentido de expandir e aprofundar o diálogo intercultural no espaço museal.
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