No Brasil, o campo da saúde, em especial a saúde mental, adota o conceito de 'autonomia' e o explicita em grande parte de suas políticas públicas. Não há, no entanto, descrição ou problematização do termo, o que pressupõe um entendimento a priori, naturalizado. O objetivo deste artigo é abordar a ideia de autonomia pelos vieses conceitual e performático. Como conceito, o termo é problematizado e atualizado à luz de teorias contemporâneas, as quais são contrapostas brevemente às conceituações hegemônicas na história da filosofia. Como performance, ele se relaciona à experiência de uma viagem à Montreal-CA, que durou quinze dias e ocorreu em novembro de 2013. Dez pessoas participaram dessa viagem, entre eles usuários de saúde mental, familiares e discentes das universidades envolvidas na pesquisa. Utiliza-se a metodologia cartográfica para produção e análise dos dados. Consideram-se todos os participantes como pesquisadores, na tentativa de dissolver os lugares de sujeitos de pesquisa e pesquisador, valorizando a experiência.
Este ensaio objetiva problematizar os paradoxos dos 'benefícios' governamentais, cedidos aos indivíduos considerados incapacitados ao trabalho, devido algum diagnóstico em saúde mental. Para tanto, utiliza do conceito de Biopolítica, proposto por Michel Foucault, contrapondo a relatos de usuários e usuárias de serviços de saúde mental. Através dessas experiências, analisam-se impasses produzidos entre os princípios da Reforma Psiquiátrica Brasileira e os métodos utilizados pelos programas de seguridade social para garantia dos 'benefícios'. Na discussão, aponta-se que o paradoxo dos direitos se torna ainda mais intenso quando as reivindicações emancipatórias no campo da subjetividade estão localizadas numa sociedade em que os Direitos Sociais, previstos em Constituição, não foram conquistados pela maioria da população brasileira. Assim, se os 'benefícios' se colocam de forma paradoxal é, também, porque boa parte da população não tem direitos garantidos e precisam obter alimentação, moradia, saúde, dentre outros, à custa da manutenção de patologias como justificativa para garantir direitos.
Resumo O artigo investigou os efeitos de uso da versão brasileira do Guia da Gestão Autônoma da Medicação (GAM-BR) em grupos de intervenção em serviços públicos saúde mental. Objetiva-se analisar narrativas de usuários, psiquiatras e demais profissionais a partir da relação de cada um deles com a prescrição medicamentosa, mote do trabalho com o Guia. Participaram da pesquisa três CAPS do sul do país, integrantes da pesquisa multicêntrica GAM-BR. O áudio das falas produzidas nos grupos focais e nas entrevistas foi gravado, transcrito e transformado em narrativas por meio da extração dos núcleos argumentais. Os resultados apontam para a ampliação da concepção de autonomia e maior reconhecimento dos direitos dos usuários. Sugere, porém, dificuldades no exercício desses direitos, especialmente com relação ao tratamento medicamentoso, visto como condição para manutenção do vínculo com os serviços. Ressalta a importância de maior reflexão, tendo em vista a manutenção da lógica da escolha, privatizante e individualista, em detrimento da lógica do cuidado que valoriza o trabalho em rede e a corresponsabilização.
Este escrito, que se pretende um Texto – conceito exposto por Costa (2017), o qual considera que o encontro com uma escrita produz acontecimento – parte das proposições colocadas por Deleuze em O método da dramatização e em Um manifesto de menos, além de considerar os escritos de Sílvia Balestreri acerca do trabalho de Carmelo Bene e seus desdobramentos. Trata-se de uma escrita que começa em um percurso que se instaura antes mesmo do início de uma sentença e vale-se de Clarice Lispector para firmar-se como algo que começa e cresce pelo meio. Ao mesmo tempo, é um escrito que, a partir de Costa, Deleuze, Guattari, Lapoujade, entre outros autores e artistas, pede passagem para não ter fim. Flertando com a escrita teatral, o presente trabalho intenta apresentar o fenômeno-circunstância – personificado na personagem Palavra dita-demais – por meio do qual conceitos perdem força e sentido, ao serem aplicados e replicados de forma vazia, em nossos próprios discursos. Tal fenômeno sinaliza que dadas palavras-conceito podem virar símbolo de status, assim como podem servir para viabilizar um diálogo que repete o mesmo, sem levar ao pensamento e à criação.
O presente estudo analisou as repercussões da pandemia e do distanciamento social na saúde mental de pessoas do grupo de risco da COVID-19. Por meio de entrevistas com membros de um grupo educativo em saúde, discute-se os entrelaçamentos entre as principais repercussões, os determinantes sociais da saúde e a Saúde Mental. As principais repercussões encontradas foram a sensação de privação de liberdade, insegurança nas informações sobre a pandemia, limitação de acesso a serviços de saúde e aumento das demandas emocionais. Os resultados suscitam a necessidade de repensar estratégias de cuidado em saúde de acordo com o novo contexto.
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