O objetivo deste trabalho é identificar as mudanças das articulações linguísticas, em especial no que se refere à questão morfossintática no emprego de pronomes, verbos, substantivos e adjetivos, na canção brasileira “Mulheres”, no cotejo entre a letra original (do compositor Antonio Eustaquio Trindade Ribeiro) e sua respectiva versão (das cantoras Silvia Duffrayer e Doralyce). Fundamentamo-nos nos preceitos da Linguística da Enunciação, principalmente em Émile Benveniste e, para a discussão sobre o ethos discursivo, em Amossy (2005) e Maingueneau (2015). Metodologicamente, seguiremos as noções da transversalidade enunciativa (FLORES, 2010) e do paradigma indiciário (GINZBURG, 1989). Pensamos que um olhar transversal e detalhado sobre as minúcias linguísticas da materialidade enunciativa, baseado em um arcabouço teórico que privilegia os fenômenos, pode permitir revisitar o alcance da questão da (inter)subjetividade a partir do axioma de Benveniste relativo a como o sujeito se constitui na e pela linguagem. A partir da análise linguística, pretendemos refletir sobre o ressignificar e a emergência do sujeito discursivo na materialidade linguística do enunciado no contexto em que a enunciação se torna um ato simbólico de protesto, de criação e de redefinição na sociedade brasileira, marcando um tempo e um espaço do feminismo.