Resumo: Estudos tem mostrado que, nas aglomerações produtivas, a proximidade geográfica das firmas não é suficiente para determinar crescimento da região. A literatura tem apontado para a necessidade de mecanismos de coordenação que viabilizem a articulação interfirmas e a eficiência coletiva. Nesse sentido, o objetivo foi analisar e comparar as ações de governança dos arranjos de gemas e joias dos Estados do Pará e Rio Grande do Sul. A pesquisa se baseou em um estudo de casos múltiplos, com realização de 23 entrevistas com atores relevantes das localidades, aliada à análise documental. A fase de análise contou com a utilização de técnicas de análise de conteúdo. A despeito dos casos investigados se situarem em regiões opostas do país, contatou-se muita similaridade na governança dos dois arranjos, principalmente na primeira fase das trajetórias. Na segunda fase, constatou-se aumento nos mecanismos de controle e maior centralização da gestão no arranjo do Pará.
Palavras-chave:Governança. Microgovernança. Aglomerações produtivas. Gemas e joias.
IntroduçãoOs estudos que se dedicam à análise do processo de aglomeração de empresas comumente priorizam apontar as vantagens competitivas oriundas da concentração geográfica (Marshall, 1982;Banwo, Jianguo & Onokala, 2017). Entretanto, não são poucas as pesquisas que mostram que as externalidades positivas decorrentes da proximidade geográfica não são suficientes para a obtenção de benefícios e expansão das firmas instaladas em um mesmo território. Outros mecanismos parecem se mostrar necessáriosações conjuntas, por exemplo -, para que as aglomerações produtivas possam apresentar um movimento virtuoso de crescimento, superando os estágios iniciais de formação e as características de arranjos produtivos informais ou de sobrevivência (Mytelka & Farinelli, 2000).Nesse contexto, o termo governança ganha significado especial, tendo em vista que o pressuposto é que esses arranjos se baseiem na complementariedade de recursos, na confiança entre as partes envolvidas e na articulação de diferentes organizações em torno de objetivos comuns. Essas relações demandam mecanismos adequados de coordenação que viabilizem a articulação interfirmas e a eficiência coletiva (Cario & Nicolau, 2012;Queiroz, 2013), ou seja, ações conjuntas que gerem vantagens às empresas, pouco prováveis de serem obtidas de maneira isolada (Schmitz, 1995(Schmitz, , 1997 Em uma aglomeração de empresas, a governança significa a articulação entre vários atores públicos e privados, bem como os elementos estruturais e processuais que, em conjunto, afetam a coordenação dos esforços e recursos individuais em um âmbito de ação Entendido dessa forma, parece que o funcionamento de uma aglomeração produtiva é afetada diretamente pelo sistema de governança que nele opera, assim como a sua dinâmica pode influenciar na adoção de determinadas formas de governança.