Em Portugal o trabalho criativo em torno da popular music não tem sido objeto de um investimento científico atualizado. E essa situação é premente no que tange aos constrangimentos que o trespassam e se acentuaram na pandemia. Partindo de entrevistas semiestruturadas, este artigo propõe-se mapear as desigualdades e os impactos da COVID-19 no trabalho criativo de 40 músicos portugueses – fruto de uma investigação transnacional em curso, que envolve Portugal, o Reino Unido e a Austrália. Na generalidade, as pesquisas têm revelado um paradoxo inelutável face ao trabalho criativo musical: se, por um lado, esse mercado de trabalho apresenta abertura cultural, dinamismo e cosmopolitismo, por outro, revela padrões de desigualdade em termos de género, precariedade de vínculos, informalidade contratual, atipicidade de tarefas, flexibilidade de papéis (SIMON & THWAITES, 2018; THREADGOLD, 2018). Estes padrões de desigualdade foram severamente acentuados pela pandemia. Importa, por isso, compreender os impactos da COVID-19 nos processos de produção musical dos jovens músicos portugueses situados no espectro diverso e pluriforme da popular music. Por todo o mundo, os governos impuseram restrições à vida social, de modo a controlar a propagação da COVID-19, de acordo com retóricas de ‘aplanar a curva’. Diferentes tipos de restrições foram adotados, passando por vários graus de distanciamento e isolamento social, proibição ou restrição de ajuntamentos sociais, viagens, atividades de lazer e desportivas, e mesmo da ida à escola ou ao trabalho. O impacto destes tipos de controlo e medidas de emergência na liberdade individual e na democracia, ainda por apurar, deverá continuar. Muitas medidas terão de se manter a longo prazo, algumas mesmo tornando-se parte do ‘novo normal’ para estes músicos, levando a reequacionar conceitos chave, como, risco, medo, pânico, crise e confiança.