Em 2017, um número significativo de países africanos teve novas eleições, o que vem sendo considerado um desafio para as democracias recentemente instauradas no continente que, assim como no Brasil, vêm enfrentando sérios questionamentos e mesmo ameaças diretas. As diferenças entres os processos específicos de cada contexto nacional deixam entrever, contudo, algumas semelhanças: corrupção, persistência de certos cenários de desigualdade social (mesmo com todas as transformações vividas nas últimas décadas), avanço da extrema direita ou ao menos o questionamento de uma série de direitos sociais recentemente adquiridos. O cenário africano, neste sentido, tem atualmente de enfrentar outros desafios não resolvidos com a democracia, como a persistência do racismo, da homofobia, do sexismo -no caso da África do Sul, apesar de uma legislação tida como progressista (ver Zethu Matebeni, neste dossiê) 1 . Registram-se guerras, fome, incontáveis formas de devastação e miséria, mas também epidemias como do ebola, que continuam a alimentar antigos estereótipos e a justificar exclusões que se desdobram desde o período colonial. Todavia, importa afirmar que os países do continente africano não se encontram isolados nessas experiências de desamparo e de desigualdade.Como parte desse cenário, interessa ao Brasil, e particularmente ao campo de estudos e pesquisas em África, acompanhar de perto os desdobramentos dos BRICS 2 , que têm fomentado uma interlocução Sul-Sul, especialmente entre o Brasil, a África do Sul (e África Austral como um todo) e a Índia. Acordos de cooperação foram firmados ao longo da última década, apesar de tais alianças virem sendo ameaçadas pelo governo de Michel Temer.No Brasil, o campo de estudos em África cresceu significativamente. Há um fluxo intenso de ideias e pessoas, mesmo num momento em que, de modo DOI http://dx