Antoine Berman é, inegavelmente, um dos mais importantes pensadores da tradução da segunda metade do século XX no ocidente. Ainda que, como pertinentemente aponta Petry (2012), muitos de seus importantes escritos datem dos anos 1960 e 1970, para os fins deste artigo, utilizamos como marco seu primeiro grande ensaio, A prova do estrangeiro, publicado em 1984 1 . Nessa obra que o consagra no campo dos estudos da tradução, Berman apresenta, logo no início, uma carta de princípios intitulada "La traduction au manifeste", publicada primeiramente em 1981 na Argentina com o título "El lugar de la traduction". Trata-se de estudo redigido com o intuito de lançar as bases de uma disciplina autônoma capaz "de definir-se e situar-se por si mesma e, por conseguinte, ser comunicada, partilhada e ensinada" (BERMAN, 2002(BERMAN, [1984, p.12).A primeira tarefa enunciada para a constituição dessa disciplina consiste precisamente na elaboração de uma história da tradução (à qual se somam uma ética e uma analítica). Declara Berman (2002[1984], p.12): "A constituição de uma história da tradução é a primeira tarefa de uma teoria moderna da tradução". Fazer essa história implica "redescobrir pacientemente essa rede cultural infinitamente complexa e desconcertante na qual, em cada época, ou em espaços diferentes, ela se vê presa. E fazer do saber histórico assim obtido uma abertura de nosso presente" (BERMAN, 2002(BERMAN, [1984, p.14).