Este trabalho tem como objeto de análise construções com verbo no modo imperativo seguido do pronome de terceira pessoa se-por exemplo, Arquive-se. O corpus selecionado são ofícios ligados à organização burocrática da instrução pública paulista, na passagem do séc. xix ao xx, textos nos quais é possível notar a representação escrita de atos de comando. Buscamos motivações semânticas e pragmáticas para a inserção do se nesse contexto, já que o pronome exprime a indeterminação do agente verbal, e, sob o enfoque da História Social da Língua Portuguesa, procuramos articular os resultados linguísticos encontrados às circunstâncias sócio-históricas de produção do material. O exame dos dados revelou que a inserção do se ao verbo imperativo serve para remeter o comando a um alocutário indeterminado, de modo que as ações delegadas pelo locutor, que ocupa cargo superior, possam ser realizadas por qualquer um de seus funcionários, e não por um indivíduo específico. Essa conclusão é corroborada pelas características de autoridade hierárquica e ordenação impessoal que, segundo Max Weber, são inerentes ao conceito de burocracia. Palavras-chave Português brasileiro, imperativo, pronome se, burocracia Sumário 1. Introdução. 2. Imperativo + se: um comando para quem? 2.1. Atos ilocutórios diretivos. 2.2. O pronome se. 3. A expressão do imperativo na burocracia paulista. 3.1. Sobre o corpus. 3.2. As construções de imperativo + se no corpus. 3.3. Eixo semântico-pragmático: Por que + se? 3.4. Eixo sócio-histórico: Por que o imperativo + se nos atos de comando da burocracia paulista? 4. Considerações finais.