ResumoO tabagismo é a causa de morte evitável mais frequente. Para além de provocar múltiplas doenças causadoras de internamentos, o tabagismo é também uma doença a tratar durante o internamento, não só para controlar a síndroma de abstinência do doente, sujeito a interrupção abrupta, mas também para cumprir a legislação que proíbe o uso de tabaco nos serviços de saúde, única forma eficaz de prevenir a exposição dos não fumadores ao fumo do tabaco presente no ambiente (FTA). Tratar o fumador internado de forma apropriada é também aproveitar a janela de oportunidade para promover a cessação tabágica e não apenas a abstinência temporária.
Rev Port Pneumol 2007; XIII (6): 801-826Palavras-chave: Cessação tabágica, internamento, serviço de saúde sem tabaco.
AbstractTobacco use is the most avoidable cause of death. Other than provoking multiple diseases requiring hospitalisation, Tobacco Use is also a disease requiring management in the hospital setting, not only in terms of controlling the withdrawal symptoms of the patient, who has been abruptly prohibited from smoking, but also for fulfilling legislation which prohibits tobacco use in the health services, the only efficient way of preventing exposure of non-smokers to environmental tobacco smoke. Treating the in-patient smoker in an appropriate way also provides a window of opportunity for promoting not just a temporary but a complete smoking cessation.
Rev Port Pneumol 2007; XIII (6): 801-826Abreviaturas: CO -monóxido de carbono; FTA -fumo do tabaco presente no ambiente; TSN -terapêutica de substituição de nicotina Introdução A Organização Mundial de Saúde considera o tabagismo a principal causa de morte evitável 1 e o Banco Mundial considera o controlo do tabagismo a medida de melhor relação custo-eficácia, quando comparada com terapêuticas efectuadas nas mais variadas patologias 2 . Aproximadamente 50% dos fumadores morrem prematuramente devido aos efeitos deletérios do tabaco. As doenças relacionadas com o tabagismo activo são múltiplas: oncológicas, cardiovasculares, pneumológicas e outras, sendo também causadoras de internamentos, morbilidade e diminuição da qualidade de vida. Por outro lado, o tabagismo activo tem ainda efeitos adversos na evolução de outras doenças, como asma, tuberculose, bronquiolite, pneumotórax idiopático, e aumenta as complicações no pós-operatório de várias cirurgias. A dependência da nicotina é reconhecida, desde 1988, e desde 1992 que o tabagismo é considerado uma doença pela Organização Mundial de Saúde 3 . Doença esta que é crónica e tem recaídas frequentes, nem sempre reconhecidas. Assim sendo, o doente fumador internado tem um duplo diagnóstico: para além da doença motivadora do internamento, o tabagismo é também uma doença (código 305-1 do ICD-9--CM 4 ) que carece de diagnóstico e intervenção específica fundamentada pela evidência científica actualmente disponível 5-13 . O internamento, e em especial quando a sua causa é uma das muitas doenças relacionadas com o tabaco, pode aumentar a recepti-P