Resumo: Ao reconhecer uma nova localização das culturas periféricas na história mundial, bem como partindo de uma concepção não monolítica e não substancialista de cultura, este artigo localiza, por um lado, a Europa na história mundial e propõe, por outro, um diálogo intercultural simétrico entre críticos das culturas ditas periféricas. Essas culturas periféricas foram colonizadas, excluídas, desprezadas, negadas e ignoradas pela Modernidade eurocentrada, porém, não foram eliminadas. O desafio que se coloca é o de estabelecer um diálogo transmoderno e simétrico entre essas culturas -tratadas como exterioridades da Modernidade -a fim de responder de outros lugares os desafios da Modernidade e pós-modernidade europeia.Palavras-chave: transmodernidade, interculturalidade, filosofia da libertação, exterioridade, sistema-mundo.Centro e periferia cultural: o problema da libertação D esde o final da década de 1960, como fruto do surgimento das ciências sociais críticas latino-americanas (especialmente a "teoria da dependência"), como também da obra Totalidade e infinito de Emmanuel Levinas (1988), e principalmente pelos movimentos populares e estudantis de 1968 (no mundo, notadamente na Argentina e América Latina), se produziu no campo da filosofia, portanto na filosofia da cultura, uma ruptura histórica. O que havia sido considerado como mundo metropolitano e mundo colonial agora era classificado (a partir da terminologia, ainda desenvolvimentista, de Raúl Presbisch -Cepal) como "centro" e "periferia". A isso se deve agregar todo um horizonte categórico proveniente da economia crítica, que exigia a incorporação das classes sociais como atores intersubjetivos a serem integrados a uma definição de cultura. Não se tratava de mera questão terminológica e sim conceitual, que permitia romper com o conceito "substancialista" de cultura, descobrindo suas fraturas internas (dentro de cada cultura) e entre elas (não só como "diálogo" ou "choque intercultural, mas estritamente como dominação e exploração de uma sobre as demais). A assimetria dos atores deveria ser levada em conta em todos os níveis. A etapa "culturalista" tinha acabado. Em 1983, em um capítulo intitulado "Más allá del culturalismo" escrevi:Para a visão estruturalista do culturalismo, era impossível compreender as situações de mudança de hegemonia, dentro de blocos históricos bem definidos e as formações ideológicas de várias