O período de seca que a região semiárida viveu entre 2010 e 2016 transcorreu de maneira bem distinta do que em períodos passados. Ainda que a seca fosse a mais intensa de que se tem notícia, seus impactos foram significativamente menores, sem registros de calamidades sociais. Em parte, os seus impactos sociais foram atenuados em função de uma nova concepção de resposta para o enfrentamento da seca, construída gradativamente ao longo de pouco mais de duas décadas de transformações na região. Este artigo se concentra em três campos de análise: (i) as características do campesinato que compõe a base social da região; (ii) as relações agroecológicas dos sistemas difundidos nos últimos anos; e (iii) o processo de mobilização da sociedade civil e a construção de novas políticas para o semiárido. Inicialmente, realizou-se uma comparação entre os períodos de seca com base em dados climatológicos disponibilizados pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos/INPE. A partir daí, o trabalho se valeu de metodologias participativas de diagnósticos dos sistemas e subsistemas agroecológicos que remetem à convivência com o semiárido, demonstrando a importância do seu papel na composição dos estoques e na conversão do capital natural em outros ativos para as famílias agricultoras. A multifuncionalidade e a pluriatividade do campesinato do semiárido cumpriram um papel decisivo na estabilidade dos sistemas e na segurança alimentar da família. O estudo registrou a trajetória de construção de políticas públicas em que as ideias relacionadas à convivência com o semiárido e o foco na agricultura familiar passaram a compor ações de enfrentamento da seca e promoção do desenvolvimento.
e ste artigo está alicerçado em estudos dos autores que analisaram o processo de aproximação, ora em curso, estabelecido entre as perspectivas feminista e agroecológica no Brasil. São analisados os elementos acerca do lugar de subordinação ocupado pelas mulheres na agricultura familiar brasileira. Um elemento chave deste artigo reside na ideia de que, no âmbito da família rural camponesa, persistem processos que perpetuam relações de gênero injustas, que reforçam o poder patriarcal. Tratar a família como unidade monolítica torna o desenvolvimento agroecológico incompleto e imperfeito, daí a importância da aproximação entre a agroecologia e o feminismo. São também analisadas as dificuldades enfrentadas, os desafios superados e a superar, além do potencial sinérgico dessa aproximação. Desta forma, procura-se contribuir para a evolução futura tanto da agroecologia como do feminismo, a partir dos passos dados e lições aprendidas com a trajetória.No Brasil, o debate agroecológico iniciou-se na década de 1980 influenciado por discussões pautadas por movimentos de oposição ao processo de modernização da agricultura que se intensificou na segunda metade do século XX. Essa modernização tem sido responsável pelo aumento das contaminações causadas pelos agrotóxicos, descontrole das pragas e doenças, degradação dos solos e dos recursos hídricos, entre outros danos. Pouco a pouco, o debate ampliou-se para consequências sociais do modelo de desenvolvimento vigente, como a concentração de terra que leva à pobreza e exclusão no campo, à precarização das relações do trabalho e, por fim, ao êxodo rural. Enquanto movimento, a agroecologia ganhou força nos anos 2000 com a realização do I Encontro Nacional de Agroecologia (I ENA) e a construção da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).Em meio a consensos e dissensos, ao longo desse período, emergiu no país um novo processo político. As organizações que iniciaram seu trabalho no campo agroecológico, passaram a incorporar, mesmo que tangencialmente, uma abordagem de gênero. Por sua vez, as organizações feministas mesmo com origem urbana, ao se depararem com a realidade rural, passaram a incorporar a agroecologia em suas abordagens de trabalho.O termo agroecologia aqui descrito diz respeito, por um lado, a uma ciência e, por outro, a um movimento social, reunindo uma visão holística e um enfoque sistêmico. Não se trata apenas de uma forma de praticar agricultura, nem tão somente ao uso de tecnologias que não agridam ao meio ambiente. Sua proposta é, sobretudo, a partir da agricultura familiar romper com o modelo hegemônico de desenvolvimento rural baseado no monocultivo, no latifúndio, no agronegócio que formam a base do modelo capitalista de desenvolvimento rural gerador de exclusão social (1).Da mesma forma, o feminismo aqui abordado também está relacionado a uma teoria e a um movimento que se retroalimentam e, de várias formas, põe em relevo a opressão que o gênero masculino exerce sobre o gênero feminino (2). Essa abordagem questiona o papel de subordinação da mulher e os vári...
O cultivo do algodão no semiárido nordestino remonta ao período colonial no Brasil. Nas épocas áureas de produção, cumpriu importante papel na economia da região semiárida. Inicialmente, as lavouras de algodão localizavam-se próximas aos quintais das casas, destinadas à produção de fibra para as roupas dos escravos, bem como à produção de alimentos quando se associava o algodão com milho e feijão. Mais tarde, o cultivo de algodão se associou também à pecuária, gerando fibra, alimento para os animais e renda para a população local. O algodão teve seu apogeu no semiárido nos idos do século XX, quando ficou conhecido como o “ouro branco do Nordeste”, até o seu declínio a partir dos anos 1980. No entanto, a partir do início do século XXI, iniciou-se um lento e progressivo processo de recuperação, agora em bases agroecológicas vinculadas à agricultura familiar e ao mercado de moda em nível mundial, com interesse crescente na fibra de algodão orgânica. Alguns aspectos que desafiaram a produção de algodão no passado ainda continuam instigando agricultores e agricultoras no presente. E é precisamente sobre estes aspectos que a revisão proposta nesse artigo visa tratar. Foram trazidos aqui autores clássicos e contemporâneos, além de algumas entrevistas com pessoas-chave envolvidas na retomada do algodão. O objetivo é fazer aflorar a multidimensionalidade da saga do algodão no semiárido nordestino, considerando-se as suas bases históricas, técnicas, sociológicas e mercadológicas para apontar caminhos que poderão contribuir com sua sustentabilidade futura.
Immersion in rural reality has been a challenge for the Veterinary Medicine at the Federal Rural University of Pernambuco, whose training locus are generally concentrated in classrooms and laboratories. Furthermore, the immersion in the reality of a land reform settlement was even more challenging, as it is a reality that is almost unknown by the students. Additionally, the students had to assume the leading role in the construction of knowledge, based on the methodology of problematization, and it was also a challenging. That is, knowing the phenomena from the concrete reality, which by the way, presented itself in a dynamic, plural and diverse way. And, of course, the experience was something quite new to students traditionally used to listening, receiving and writing down content in a fragmented way and with little room for deepening, dialogue and connection between the knowledge covered. This is because the view of reality in this case is always superficial and partial, as it often boils down to the individual point of view of the teacher and the restricted universe of four walls. And, therefore, knowing reality as it is implies, first of all, immersing in its complexity to know the intricacies and in-between of its parts and the contours of its totality, making it meaningful. Therefore, the methodology of problematization, in the light of the principles and concepts of Agroecology, of the dialogue between traditional knowledge and scientific knowledge, of experience and concrete experience, of dialogue with rural families, of intervention in reality, of reflection-action of the spaces built, in short, of the educational processes carried out, seem to have changed, greatly, not only the practice of the settlers, but above all the way of thinking and doing education of the students and educators involved.
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