A clínica da depressão: questões atuais Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., III, 2,[9][10][11][12][13][14][15][16][17][18][19][20][21][22][23][24][25] A psicoterapia com pacientes que encontram-se sob efeito de antidepressivos revela que estes são relativamente eficazes na inibição de sintomas considerados típicos da depressão. Porém, ao mesmo tempo, sintomas considerados típicos da melancolia não são afetados por esses medicamentos. Nem a longa e rica tradição psiquiátrica nem a psicanalítica estabelecem uma diferença específica clara entre depressão e melancolia, tratando-as, na maior parte das vezes, como fazendo parte de um mesmo campo semântico e, por isso, sendo utilizadas como sinônimos. Esta tendência culmina em manuais de psiquiatria, como o DSM-IV e o CID-10, em que o transtorno bipolar é denominado maníaco-depressivo. A melancolia fica, assim, dissolvida na depressão. Partindo desta constatação clínica, este trabalho estabelece uma diferença específica entre depressão e melancolia e descreve o campo semântico próprio da depressão. Palavras-chave: Psiquiatria, psicanálise, depressão, melancolia, psicoterapia REVISTA LATINOAMERICANA DE PSICOPATOLOGIA FUNDAMENTAL I. Introdução Apesar da longa e rica tradição de estudos sobre a melancolia, inaugurada no Ocidente com Aristóteles (1999), retomada, na modernidade, com o estudo de Robert Burton, e, depois disso, prosseguindo como tema central das nosografias e nosologias psiquiátricas até os anos 70 do século XX, os mais recentes Manuais de Psiquiatria -o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 4 a edição, conhecido também como DSM-IV, da Associação Psiquiátrica Americana, e a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10, da Organização Mundial da Saúde, com sede em Genebra, Suíça -dissolvem a melancolia na depressão (Peres, 1996; Pessotti, 1999). Assim, nos capítulos sobre os transtornos do humor desses Manuais, os denominados "transtornos bipolares" não se referem mais à melancolia-mania, mas à depressão-mania.Outras publicações de saúde mental, como The Harvard Mental Health Letter (1990), reconhecem dois tipos de transtornos do humor ou afetivos: a depressão e o transtorno maníacodepressivo. A depressão pode ocorrer como depressão maior ou como forma mais leve, denominada distimia. A desordem bipolar pode, também, apresentar forma mais suave, denominada ciclotimia.Essa dissolução é particularmente notável a partir dos anos 80, pois, até então, a psiquiatria dedicava sua atenção à melancolia, ainda que esta incluísse a depressão. De fato, como observa Mário Pereira (1999), a psiquiatria alemã nunca realizou uma distinção entre melancolia e depressão, tratando as duas indistintamente. Freud, por exemplo, dedicou sua atenção à melancolia fazendo pouquíssimas referências à depressão. Observa-se em seus textos que depressão e melancolia não precisam ser distinguidas de forma REVISTA LATINOAMERICANA DE PSICOPATOLOGIA FUNDAMENTAL ARTIGOSThis tendency is most evident in psychiatric manuals as DSM-IV and CID-10, where bipolar diso...
Este artigo examina a seguinte questão: existiria uma abordagem especializada do humano que, sem ser nem uma psicologia nem a psiquiatria, tenha os meios metodológicos de um projeto de observar e descrever os distúrbios psíquicos e compreender seu acontecimento fenomenal singular no cerne da generalidade da experiência? A questão se acha colocada desde 1910 por Karl Jaspers nos trabalhos que precedem a publicação, em 1913, de sua Psicopatologia Geral. A partir daí, o problema ao qual nos encontraríamos confrontados é o da condição fenomenológica da psicopatologia, ou seja, a vontade de não fazê-la resultar e depender da psicologia. E se a psiquiatria é, há um tempo relativamente longo, um terreno de observação e de pesquisa racional de classificações, é preciso constatar que suas práticas empíricas foram, há muito, consideradas impotentes para conduzir à constituição de uma psicopatologia. Dessa forma, o autor é levado a argumentar que seria, então, conveniente pensar o projeto de uma psicopatologia fundamental como um projeto de natureza intercientífica, em que a epistemologia comparativa dos modelos e de seu funcionamento teórico-crítico desempenharia o papel determinante de uma consciência de seu limite de operatividade e de sua aptidão a transformarem-se uns aos outros.
No abstract
Por mais acostumados que os psicanalistas pareçam estar a se escutar predizer, há muito, o esgotamento de sua teoria e prática, eles não deveriam subestimar a amplitude do fenômeno de uma generalização crescente do uso dos psicotrópicos.Este fenômeno considerado "social" é, certamente, objeto de avaliações tanto epidemiológi-cas quanto sócio-econômicas muito sérias, mas não é seguro que tenhamos noção de toda a sua extensão -principalmente a extensão de suas implicações -já que se trata destas potentes molé-culas que entram na composição da "nova geração dos psicotrópicos". Sem adentrar logo nos roteiros futuristas de iminente catástrofe do sujeito humano pelo efeito de uma normalização de uma nova ordem mental -a da "droga perfeita" (Alain Ehrenberg) -, o que se impõe primeiramente é um neo-pragmatismo do "tratamento psíquico" que concederia ao químico compe-31 ARTIGOS tências para produzir percepções de si protegidas do sentimento de alteração. Este tratamento do psíquico pelo químico ofereceria, de alguma forma, a vantagem de "auto-engendrar" um bem-estar (até mesmo prazer), do qual não se poderia pensar ser uma cura ansiolítica ou antidepressiva, já que o estado mental assim obtido teria toda a aparência de um estado tímico "natural" -a mesma liberdade interior sempre esperada do levantamento de um recalque. Tal vantagem seria ainda mais apreciável se não trouxesse a dependência de uma droga e não fizesse correr riscos de efeitos secundários desfavoráveis tanto no plano físico quanto sob formas de manifestações comportamentais desadaptadas ou psicopáticas.O psicotropismo da molécula equivaleria, então, a um destes artifícios que Descartes imagina para submeter o pensamento ao exercício de sua dúvida. E se, em suma, existisse uma molécula química cuja inteligência neurobiológica fosse tal que ela tomasse emprestado do psíquico sua própria natureza perceptiva e se reunisse a uma função primordial de auto-erotismo. Esta molécula seria, incontestavelmente, psicotrópica e o seria a ponto de a condição alucinatória de autopercepção poder, em contrapartida, ser designada como pertencendo à ordem de um processo neuroquímico cujos efeitos subjetivos fossem, até então, inimputáveis apenas ao psíquico isoladamente. Nesta hipótese aqui expressa sob a forma ficcional, é óbvio que o psicotrópico encontraria, assim, o meio de desafiar o sintoma e torná-lo obsoleto, não sendo mais o caso de fazer deste seu alvo. O sintoma não interessaria ao psicotrópico.Se fosse necessário determinar uma qualificação para um psicotrópico serotoninérgico -como, por exemplo, o Prozac -, bastaria, sem dúvida, localizá-lo como réplica do sintoma de hipocondria psíquica que é o modelo de um tratamento psíquico autocrático 1 -precisamente aquilo que do psíquico faz sintoma na tentativa de se curar, por assim dizer, de existir "enquanto psíquico". O psicotropismo de um neuromediador como a serotonina é, para esta nova geração de moléculas, uma ação tautológica: o psíquico é anulado a título de sintoma por um meio químico que, ao agir assim, poder...
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