Neste artigo analiso os contornos teóricos da história da historiografia, desde suas possibilidades como uma subdisciplina acadêmica, sua evolução recente no contexto brasileiro até as vantagens e riscos de sua institucionalização. Tento ainda pensar o campo de fenômenos, a abertura do tempo histórico, que poderia fundamentar uma história da historiografia como analítica da historicidade. Argumento, a partir da definição de historicidade em Heidegger, que tal analítica poderia permitir uma ampliação substancial do escopo de uma história da historiografia como atividade de fronteira, capaz de contribuir para a recuperação de certa experiência da história.
Este artigo analisa o surgimento e a evolução de dois regimes de autonomia intelectual no Brasil da primeira metade do século XIX. A análise concentra-se no crescente desejo por história dessa sociedade, e de como esse desejo complexificou e colocou novas exigências ao historiador e sua escrita. Argumenta-se para a existência de dois regimes de autonomia intelectual relacionados a modos distintos de produção do discurso histórico. De um lado, um modo compilatório, que atende a demanda social por sínteses pragmáticas, ligando-se mais profundamente ao mercado editorial e ao mundo emergente de um leitor não-especializado. De outro, um modelo disciplinar que precisou abrir e legitimar sua relação privilegiada com o Estado e suas instituições.
Neste ensaio analisamos como o movimento populista encarnado por Bolsonaro se engaja com a história de uma forma que ativa sua base política heterogênea. Esses engajamentos parecem ser diferentes de alguns aspectos das cronossofias modernas, como o abandono da sincronização e a apresentação coerente de uma história nacional. Em vez disso, a nova historicidade populista da extrema direita brasileira se baseia mais no apego afetivo, uma performance histórica pragmática e altamente fragmentada que, como defendemos, mais se assemelha a uma historicidade que chamamos de “atualismo”. Para demonstrar a afinidade que vemos entre essa historicidade chamada de atualismo e a versão específica bolsonarista do chamado neopopulismo, este artigo está dividido em três partes. Primeiro, apresentamos o conceito e a teoria do atualismo. Em seguida, caracterizamos as dimensões neopopulistas do bolsonarismo, ou seja, o movimento cultural e político representado por Jair Bolsonaro. Por fim, analisamos o novo populismo brasileiro em seus engajamentos com a história, especialmente as atuações da história pelos três secretários de cultura do governo Bolsonaro e como a desfactualização da realidade ganha força, criando as condições de possibilidade de o passado ser como um grande guarda-roupa cheio de imagens e modelos de prêt-à-porter.
No abstract
Este dossiê reúne conferências apresentadas no 6° Seminário Brasileiro de História da Historiografia (SNHH), o qual foi realizado no ano de 2012 na cidade de Mariana, e, nele, todos os autores tematizam o problema do giro linguístico. Trata-se das conferências de Guilhermo Zermeño Padilla (Colegio de México), Rogério Forastieri da Silva (Colégio Etapa-SP), Temístocles Cezar (Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS) e Sérgio Campos Matos (Universidade de Lisboa). A escolha do tema se deveu, sobretudo, aos 40 anos da publicação do livro de Hayden White Meta-História: a Imaginação Histórica do Século XIX, que se completariam no ano seguinte ao 6° SNHH, em 2013. As discussões que tivemos ao longo do evento e os textos que estamos publicando problematizam o giro linguístico e nos auxiliam a refletir sobre ele, ou, ainda, sobre o questionamento da relação entre realidade, pensamento e linguagem, e isso especialmente no interior da historiografia. Ainda a partir de nossas discussões no Seminário e, especialmente, dos textos que compõem o dossiê, podemos abordar os séculos XVIII e XIX como a origem, quer da compreensão que o giro linguístico problematizou-a de que o pensamento pode produzir enunciados privilegiados em relação à realidade-, quer de elementos fundamentais à própria estruturação de sua crítica. É preciso ressaltar, ainda, que o conceito mais tradicional de giro linguístico o situa como um fenômeno recente, cuja origem pode ser datada das décadas do período pós-segunda Grande Guerra. Aqui, preferimos pensar o giro linguístico como um deslocamento histórico-estrutural mais amplo que pode ser definido em torno da clássica descrição foucaultiana da crise da representação, ou seja, do divórcio progressivo entre as palavras e as coisas que tem no século XVIII seu momento decisivo (FOUCAULT 1999). De modo algum, no entanto, essa definição mais ampla recusa a existência e relevância de abordagens que tratam o fenômeno como um evento/processo decisivo à história intelectual recente. Interessa-nos, assim, pensar as condições de possibilidade do giro linguístico constituídas alguns séculos antes, a saber, a ampla percepção da "aceleração crescente das transformações no tempo", própria da modernidade e que tornou possível o questionamento acerca das funções tradicionais da "historiografia"; e, num segundo momento, a própria colocação radical do problema epistemológico da "parcialidade" e do ponto de vista. De modo complementar, podemos explicitar e compreender, em seguida, duas tradições específicas no interior do giro linguístico, buscando, por fim, refletir sobre possíveis repercussões provocadas por esse deslocamento epistemológico. A centralidade do problema da linguagem nas origens da modernidade Sobre as condições de possibilidade para a realização do giro linguístico, temos, em primeiro lugar, a constituição de uma experiência do tempo específica, profundamente acelerada, para usar um termo caro a Reinhart Koselleck, ou, ainda, trata-se da perda do caráter de imediatidade dos significados e sentidos capa...
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