Carolina Maria de JesusA declaração de Evaristo e o poema de Carolina Maria de Jesus que inauguram este ensaio indicam a urgência de abertura dos estudos literários a enunciações que se mantiveram fora do que chamamos de cânone, uma vez que vêm de espaços historicamente silenciados e marcados por resquícios ainda presentes, na contemporaneidade, do colonialismo e da escravidão. Essa abertura tem ocorrido aos poucos, pois a reivindicação do direito à escritura -e à escrevivência -parece ter sido ouvida tardiamente. Uma ilustração dessa extemporaneidade é o caso de Carolina Maria de Jesus. Apesar do sucesso de vendas de Quarto de despejo à época da publicação, a crítica passou a valorizar a obra da autora como uma produção digna de ser estudada como literatura muito recentemente. Outros exemplos são as produções contemporâneas de Conceição Evaristo e Jarid Arraes, que, apesar de bastante aclamadas por uma crítica ávida pela revisão do cânone, são de difícil acesso ou pouco divulgadas pela mídia hegemônica.Felizmente, como aponta Boaventura Sousa Santos (1997), há, paralelamente ao processo capitalista que promove a manutenção dos silenciamentos históricos, um movimento de globalização contrahegemônica. A