Este texto apresenta resultados de pesquisa sobre o Programa Minha Casa Minha Vida - Entidades, uma das modalidades da política de habitação inaugurada em 2009, no âmbito da sua apreensão como parte da constelação de programas sociais dos governos Lula e Dilma Roussef. Esses resultados de pesquisa ainda em curso apontam para dilemas, paradoxos e dimensões que envolvem a demanda, os operadores, os processos de produção dos conjuntos habitacionais e a produção e reprodução das formas de desigualdade e segregação socioespacial na cidade de São Paulo, assim como a constituição de um campo de consensos que permeia as relações entre movimentos de moradia e Estado, no interior do que se pode denominar de "lulismo".
Este artigo aponta indícios de significativas mudanças nos padrões migratórios no contexto da globalização que se fazem especialmente evidentes no caso da imigração boliviana para o Brasil (São Paulo) e para a Argentina (Buenos Aires). No Brasil, a especificidade desse fluxo imigratório reside na diferença em relação aos casos "clássicos" de imigração, já que o país tem um histórico importante de assimilação de ondas imigratórias -como a europeia e a japonesa -desde o século XIX 1 .Com a generalização do "custo chinês" 2 no setor de confecções a partir dos anos 1990, um novo padrão migratório parece substituir o anterior, o qual foi compatível com o período de formação da força de trabalho industrial e constituiu uma primeira geração de imigrantes predomi-1 Embora essa assimilação também tenha ocorrido na Argentina, as especificidades contemporâneas serão discutidas apenas em relação ao Brasil, utilizando o caso das ondas mais recentes de imigração boliviana para aquele país como um contraponto explicativo. 2 O chamado "custo chinês" está relacionado a preços de varejo muito mais baixos do que os praticados pela produção e pelo comércio formal, exercendo uma pressão sobre o preço do trabalho nos setores de confecções e calçados, entre outros.
o texto prepara a análise desenvolvida no segundo subitem "A geopolítica de 'globalização' na década de 1980". Um parágrafo (p.142) resume os objetivos deste capítulo: "Neste trabalho analisam-se três temas, necessários para uma compreensão dos problemas enfrentados na indústria automobilística brasileira e particularmente nos segmentos sediados no município de São Bernardo do Campo. Em primeiro lugar a globalização da produção; em segundo lugar as aplicações de modernização tecnológica com novos modos de organização do trabalho; e em terceiro lugar as inovações nas relações empresariais e nas relações empresa/governo".Estes três temas estão presentes de uma forma ou outra nos cinco textos escolhidos para o livro objeto desta resenha e, mesmo sendo tratados em épocas e países diferentes, explicitam as preocupações e as linhas de pesquisa do colega e amigo Phil, cujos resultados fazem parte do grande legado que nos deixou. Este livro se dedica a descrever e analisar a vulnerabilidade ou, mais precisamente, as vulnerabilidades que caracterizam as condições de vida da população pobre da maior cidade brasileira. Produzido a partir de uma longa trajetória de pesquisa e reflexão, é uma fonte preciosa de informações, mas também de questões que se repõem a cada capítulo, nos quais se ancoram conceitos e dimensões teóricas como matrizes que podem e devem ser interrogadas, merecer contrapontos, passar pelo crivo dos processos e das dinâmicas observadas e, assim, em confronto com o presente, passar por atualizações. São velhas e novas questões relativas à heterogeneidade da pobreza urbana, da população vulnerável, nomeada e observada de perto por meio das situações de moradia precária -cortiços na área central, periferias autoconstruídas e favelas. , em que algumas das questões presentes em Viver em Risco já estavam se desenhando. Mas se Escritos urbanos apontam temas e desdobramentos cujos pontos de inflexão constituem uma coletânea de ensaios sobre os temas então emergentes, na virada do milênio, Viver em risco traz um novo panorama. Parte dos achados do livro é resultante de incursões etnográ-ficas que fornecem os elementos e informações analisados a partir de uma ancoragem histórica, assim como de uma visão sociológica construída, inclusive, com base em informações estatísticas secundárias. Este cruzamento de fontes de pesquisa permitem que as três situações urbanas -cortiços, favelas e periferias -ofereçam, com a ajuda das fotografias de Antonio Saggese, um quadro muito preciso do que significa viver em risco na São Paulo de nossos dias. VIVER EM RISCO -SOBRESe as etnografias são inéditas, parecem instigar também novas incursões no debate sobre as vulnerabilidades e a pobreza, novas proposições para duas articulações teórico-conceituais -a norte-americana e a francesa -como horizontes que propõem ângulos de visão e formas de inserção e de diálogo entre a produção acadêmica, a ordenação social e as proposições políticas. Os ecos e ressonâncias destes contrapontos também se fazem sentir na produção brasileira, quer graç...
UMA QUESTÃO E SUA HISTÓRIA Duas discussões parecem ser importantes no quadro desta problematização dos chamados mutirões autogeridos como forma de produção de habitação social. A primeira diz respeito às formas como, desde os anos 70, a crítica ao desenvolvimentismo mudava os rumos da reflexão e do pensamento social no Brasil. A segunda diz respeito às formas pelas quais esta crítica, a exemplo do que ocorrera com o nacional-desenvolvimentismo e suas variantes, repercutiria em outros campos da produção intelectual e estética, vinculando áreas diversas entre si, tais como a discussão da arquitetura, de seu lugar social, de suas possibilidades de democratização e a compreensão dos movimentos e lutas sociais e urbanas. Estas dimensões se cruzam, como se verá, em um conjunto de heranças que se constituiriam, nos anos 80, no âmbito das questões e das lutas pela democratização, dos atores e movimentos sociais, da afirmação de sua autonomia e do tema da "autogestão". O tema da autogestão em relação aos movimentos de moradia pressupõe, em tese, a gestão autônoma dos recursos provenientes dos fundos públicos para o financiamento da produção habitacional, a autogestão do trabalho de produção em canteiro e a autogestão do projeto de moradias, a ser discutido com os movimentos por habitação e futuros trabalhadores/usuários. Esta dimensão foi importante no seu contraponto às políticas do BNH e COHAB que espalharam conjuntos habitacionais de péssima qualidade e com altos custos, nas periferias longínquas das cidades, encarecendo o custo da infra-estrutura
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